Carta a um amigo

E porque me calo, não é porque aceito, me é na maioria das vezes muito mais digno e menos cansativo do que ficar me defendendo de culpas que não tenho, explicando o que é extremamente normal em mim; mas que você nunca entendeu.

Essa visão distorcida, essa paranóia de que em tudo tem maldade, que o casulo é a melhor maneira de viver, é sua, não é minha.

Nasci com a cara no mundo, posso ser prisioneira, mas minh´alma é livre, cosmopolita e não vai mudar mesmo que me implore.

Você me conheceu assim e assim se enamorou por mim, é claro que com o passar dos anos amadureci, e me perdoe, se não gosta da comparação, mas como vinho; estou certa que melhorei. Quando atravessei aquela porta na sua companhia, fui aprendendo a viver, aos poucos e guiada pelas suas mãos. Se ajuntei defeitos e qualidades; o mérito não é só meu.

Concordo quando me diz que não sou mais a mesma, concordo quando me diz que fiquei muito independente, que criei asas; se assim não o fizesse teria morrido sufocada, gosto de produzir, odeio o ócio; e preciso da minha liberdade para exercer a minha criatividade, é dela que respiro a vida que me brota todos os dias.

Você não me acompanhou, ou eu não o acompanhei; nossa forma de enxergar a vida e de vivê-la é muito diferente; entenda que vivemos num mundo onde as pessoas trocam, onde as mulheres também pensam, eu não sou diferente a não ser pelo fato de amar exageradamente tudo e todos e ter uma veia sempre congestionada de sentimentos e emoções.

Tenho meus mergulhos nos meus silêncios, tenho necessidades que você não compreende, tenho meu coração de portas abertas e a cabeça longe do corpo.

Gosto da solidão, a que me entrego quieta e perscrutante, o que lhe parece loucura; pra mim é motivo de júbilo.

Fim da linha, meu caro, não sobraram nem palavras nem gestos que nos façam retroceder, não me machuque e não permita que eu venha ferí-lo, do que me acusa, não sinto culpa.

Sou senhora dos meus sonhos e dona do meu poetar, e se meus filhos incomodam, deixa-me livre para cria-los, mimá-los; deles preciso eu e não você.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 28/05/2005
Código do texto: T20461
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