Passado teimoso

São Leopoldo, 30 de julho de 2006.

Querida Amiga:

Neste domingo à tarde, deu-me imensa saudade de ti. E, conseqüentemente, do tempo em que nos conhecemos em um colégio de freiras de Porto Alegre, tu, vinda da Campanha e eu, do Vale do Rio dos Sinos. Éramos muito jovens e vislubrava-se para nós um futuro promissor.

O tempo passou, rapidamente, neste mundo conturbado e eletrizante. O tempo é inexorável. Deixou marcas no nosso rosto, nos nossos cabelos, nas nossas mãos, no nosso coração, mas não apagou o sentimento de amizade que nos une.

Temos muito que recordar do que vivemos juntas. Aliás, quando nos encontramos, falamos mais sobre o passado do que sobre o presente. E lembramos, e lembramos, e lembramos... O diálogo é pausado, marcado por passagens alegres e tristes, mas nos detemos sempre nos momentos felizes: os bailes, ah! como gostávamos de dançar, íamos sempre que podíamos; o colégio, as colegas, os professores, as freiras, o capelão, as "escapadas" pelo portão da frente, os retiros; os galanteios dos rapazes eram sempre motivos de infindável bate-papo; os encontros com as amigas e com os "amigos"; os namoros; o vestibular: estudamos na mesma universidade, embora em cursos diferentes; nossos casamentos no mesmo ano, uma foi madrinha da outra, as visitas anuais que fazíamos uma à outra, os nascimentos dos filhos, até nossos filhos e maridos tornaram-se amigos...

Fazemos sempre uma análise de nossas vidas. É um momento de reflexão: é um encontro do passado no presente, mas ainda com expectativas de futuro. Sentimos que houve um passado, que há um presente e que ainda haverá um futuro. E sempre juramos que não vamos ficar tanto tempo sem nos falar, sem telefonar, sem escrever (agora temos até e-mail), mas não cumprimos nada disso até o novo encontro. E quando ele acontece é como se tívessemos nos visto ontem.

Eu sei, amiga, seria muito mais fácil pegar o telefone e falar contigo, mas aí não ficaria registrado este momento em que tu ocupas meus pensamentos.

Muitos beijos

Da tua amiga de sempre,

Mardilê