A subida de Sierra Maestra

A subida de Sierra Maestra

=====================ErdoBastos

Venho deixar uma palavra ao povo Cubano. Ao sofrido povo Cubano.

Ao povo que décadas atrás, recebeu Fidel Castro e Che Guevara de sua descida triunfante sobre Havana, para liderá-los na derrubada da sórdida ditadura que os mantinha subjugados.

Ao povo que foi incitado por estes dois vultos da história das Américas, ícones eternos do poder e da força da união de um povo em torno de um ideal comum à todos.

A Liberdade.

E aqui, lamentavelmente, a verdade morre e é enterrada.

Daqui pra frente, a verdade morta deixa órfãos ao Che e a Fidel. Todo o ideal que Fidel transportou ao longo de sua história à bordo do seu indefectível “Jipe”, supervisionando pessoalmente, fisicamente, as obras governamentais, o funcionamento dos “politburo” em cada recanto da ilha. Uma história personal, personificando a onipotência e a onipresença, deixou cabalmente provada, pelo resultado que aí está nas ruas de todas as cidades de Cuba onde existem casas e pessoas, a tese de que o método escolhido foi o errado. Um governo não pode adquirir a personalidade de uma pessoa, nem da melhor delas, menos ainda das mal preparadas intimamente. Che tentou plantar esta semente pelo mundo, em suas garbosas viagens diplomáticas e revolucionárias, tentou implanta-lo (o sistema socialista de governo, via revolução armada) em todas as Américas. E Fidel o plantou, efetivamente, em solo Cubano e corações Cubanos.

O resultado hoje está visto. Fidel falece e a história passa o traço abaixo da conta, evidenciando o resultado para Cuba e para o mundo.

Então, sendo Fidel substituido por um governo comprometido com valores universais da democracia e da igualdade entre as pessoas, verdadeiramente, o povo Cubano conhecerá a Liberdade. De ser informado, de estar par a par com os acontecimentos mundiais no dia a dia. Vai poder mostrar ao mundo a verdade das vidas cotidianas massacradas, das famílias dilaceradas pela intervenção do Estado em suas vidas, seqüestrando membros, matando e prendendo pais e mães de filhos que diz hoje, ele, o Estado, ser mais capaz de cuidar e educar do que as próprias famílias, estabelecendo-lhes normas de educação sem ecletismo possível, sem nuances por capacidades ou interesses individuais. Sem respeito humano. Educação dirigida ao conhecimento e aceitação incondicional de uma única verdade. Unilateral e imposta. Sem a variedade, que possibilita a opção, a formação de opinião própria.

Esta é a palavra que me ocorre ao coração levar ao povo Cubano.

Décadas de sofrimento e de aprendizado, são a arma de que vocês hoje dispõem para subir Sierra Maestra. Não no mau sentido de retroceder décadas de história, mas no sentido contrário, no de retomar o poder sobre ela. Fazer com que ela seja um lugar aonde turistas deixem dólares sim. E fazer de “La Habana” a casa de alguém que decida o que fazer com eles, junto com o povo, hoje transformado em sábio povo, pelo sofrimento e pela experimentação da educação e da cultura de sobrevivência acumulada. Cultura que os torna capazes de consertos incríveis em coisas, porque eles vivenciaram os anos de bloqueio estúpido ao seu comércio internacional, e tiveram de fazer com o que tinham em casa os consertos nos carros e máquinas, pra que a vida sua e dos filhos pudesse ser minimamente vivida. Ou aprender a fazer de modo a poder prescindir das máquinas. Fazer com as mãos nuas. Os torna inventivos, a ponto de fazerem antenas parabólicas com bacias de alumínio e latas, balsas com pneumáticos cascos; e os faz sonhadores, a ponto de tentarem com elas alcançar a Flórida. E os torna unidos, porque aqueles inventivos sonhadores e corajosos que conseguiram lá chegar, não esquecem do povo que ficou, e que manteve uma Cuba existindo, com seus sacrifícios pessoais e particulares, muitos íntimos e individuais, anônimos, para que eles viessem a ter, como terão em breve, um lugar pra onde retornar.

Não um território, apenas. Um lugar. Que visto de cima, da perspectiva que Sierra Maestra possibilita, haverá de mostrar aos olhos das novas gerações de Cubanos uma Cuba renovada e aberta, aonde haja igualdade entre nativos e turistas. Nivelados por cima. Que os Cubanos tenham a cultura aprendida durante o período da ditadura de Castro, preservada e valorizada e possam amplia-la, acessando a internet, os livros editados no mundo todo, expostos nas prateleiras das bibliotecas publicas que precisam ser preservadas. As peças de teatro sendo levadas nos bons teatros de Cuba, que devem ser preservados também. Os filmes nos cinemas, os jornais nas bancas, os remédios nas farmácias, os cereais nas prateleiras dos mercados sem câmbio negro, com lucro honesto e declarado. O direito de ir e vir, de discordar e de expressar o que sentem e sabem. Sem medo. Sem cadeia. Sin paredón!

Sem revanchismo, que macularia a nobreza do povo Cubano, maiúsculo no modo bom de pensar. No modo alegre de tocarem seus atabaques e cordas, de soprar música em instrumentos feitos com pentes, folhas de árvores e latinhas... e de dançar com o colorido de suas roupas, obtido de criativos processos químicos que induzem elementares essências de plantas a serem cores vibrantemente alegres e radiantes.

E de no dia seguinte, levantarem da cama cedo e irem aos campos e cidades, cumprir com a mesma alegria e necessidade a sua faina diária, seja qual for. Povo trabalhador e alegre, de índole honesta e gentil. Povo pacífico e corajoso, dono de uma força vinda da união das almas pelo sofrimento, e que, agora, pode usar esta força com o verdadeiro sentido de patriotismo. Inclusão social. Sem Fidel, agora será possível. Torço para que aconteça.

Agora, tenho vontade de declarar meu amor a Cuba. E minha solidariedade ao povo Cubano.

Espero viver para assistir a “subida de Sierra Maestra”.