CARTA AOS MEUS IRMÃOS

Neste momento em que a saudade sussurra, trazendo à mente a miragem de nossa mãe, já sei sofrer com suavidade. Acho que todos alcançamos a mesma graça. Da mesma forma, espero que tenhamos entendido a extensão da riqueza de nossas vidas, graças ao quanto ela deixou em vivências, ensinamentos e verdades. Graças, sobretudo, ao quanto nos amou com entrega total de seu tempo;sua essência. Cada membro ativo de seu corpo dedicado aos passos, compassos, desvelos, atenções e sobressaltos, unicamente por nós. Nossa mãe não viveu senão pra isso. Nem se permitiu o luxo do que chamam vida pessoal, porque seus filhos foram tudo: O ar, e ao mesmo tempo os pulmões. O seu sonho e realidade. Ela veio ao mundo com o talento único e intransferível de ser nossa mãe. Fez isso como aquele gênio das artes, que se autoflagela e mutila quando acredita ser necessário, em razão da obra-prima.

Mas a nossa vingança contra a morte que a levou, está exatamente no fato de termos tido essa mãe. Ninguém há de roubar dos nossos íntimos tamanha felicidade, porque ela mora nos cofres de nossos seres. Cofres invioláveis, profundos, e cujas chaves foram dissolvidas no abismo. Entre os mais de seis bilhões de habitantes deste planeta, somente nós a tivemos. Tantos e tantos já sonharam, sonham, continuarão sonhando com mães iguais a nossa, mas acertamos em cheio nessa bênção. Pode ser até que milhares tenham merecido mais do que nós, mas a nossa mãe foi nossa. E tenham certeza de que ela nos amou sem cobrança e reserva. Foi cega para os nossos defeitos e não amaria, em nenhuma circunstância, quaisquer outros filhos, ainda que perfeitos, com o mesmo amor que nos dedicou por toda a vida.

Agora que o despeito cósmico a tirou de nós, o que temos a fazer é imitá-la, e com isso, fazê-la feliz onde estiver. Vamos também nos amar. Não com amor qualquer, mas extremado, presente, pronto e ágil. Um amor vigilante, com voz, mãos e pés. E amemos também os nossos filhos, sem tirar um grama do peso e da medida infinita com que fomos amados. Ela jamais nos cobrou nada, mas se fizermos assim, com certeza terá orgulho de nós e de si própria... Bendirá pela eternidade, a criação que nos deu, como terá por bem aventurada sua missão na terra, vendo-nos contagiados por esse dom maior: De amar aos nossos rebentos mais do que a nós próprios.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 12/07/2010
Código do texto: T2373391
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.