VIDA, AMOR E CASAMENTO

Olá, meu Maridão!

Estava aqui relaxando e, de repente, comecei a pensar em nós. Quantas lembranças! Quantas situações já vivemos juntos! Como o tempo passa!

Tudo começou por uma coincidência (ou Providência Divina?), hospedados no mesmo hotel, em uma cidade ainda estranha, e uma parceria em jogo de “Buraco”. Foi uma surpresa a declaração e, mais ainda, perceber que aquele parceiro pensava em futuro, em relacionamento sério, em família e não só em beijinhos e abraços.

“Tremi na base”... Logo uma mulher - que todos imaginam que essa é a sua prioridade - se assustar com a ideia de noivar, casar, abdicar da independência conquistada, da liberdade de decidir sozinha, de dar pouca satisfação do que faz, de deixar as viagens e as festas com a turma para se dedicar à formação de uma família!

Eu não tinha nenhum hábito das “Amélias” e estava muito distante da fantasia de “segurar você pela barriga”. Eu não sabia distinguir um molho de tempero verde com salsa de um molho de coentro! Meus conhecimentos vinham da leitura, estudo, muito profissionalismo no trabalho, de passeios e viagens. Sequer construir um “patrimônio” eu me interessava em fazer. Eu me sentia feliz assim, minha família gostava de me ver com aquela liberdade responsável e, para mim, tudo estava bem.

Você soube conquistar e me dobrou, meu querido. Conseguiu, aos poucos, atingir o objetivo desejado, e me vi feliz, vestida de noiva, com você me esperando no altar e comemorando, depois, com a família e amigos.

Tornei-me uma ‘Senhora’ e fomos para a nossa casa, onde estamos até hoje. Convenhamos que eu mais parecia uma menina grande, moleca, brincalhona, atrapalhada com os afazeres, precisando conciliar trabalho profissional com tarefas domésticas. Horários certos para dormir e acordar, almoçar ou jantar? Qual nada! Sempre fui “flex hours”...! Você se tornou meu despertador oficial, e as refeições principais só eram servidas na hora que eu conseguisse preparar alguma, através de receitas. Que bom que você entendeu também isso e me ajudou à beça!

Ainda estávamos nessa “lua de mel” quando meu organismo começou a me pregar peças, arteiramente e, entre um mal estar e outro, descobrimos que nosso primeiro filho estava a caminho. Uma

“bebezinha”, como desejava meu pai. Que dó eu tinha da nossa filha! Parecia desprotegida nas mãos de pais amorosos mas que nunca cuidaram de uma criança, e sem avós perto para orientar. Aplausos para a querida pediatra que foi a nossa salvação e me ensinou, até, o tamanho médio de uma batata do reino e como fazer sopinha! Parecia ser nossa plantonista. Resultado: nós nos tornamos amigas-irmãs e continuamos assim.

A família aumentou... Papai do Céu nos presenteou com mais uma garotinha e um garotinho. Nós conseguimos administrar melhor as nossas atividades, aprendemos juntos a fazer as tarefas necessárias sem abdicar do trabalho profissional, dos passeios, das viagens – longas ou curtas – e nossos três lindos e queridos bebês cresceram. Daqui a algum tempo as nossas águias, já preparadas para voar, encontrarão o caminho e construirão, também, os seus ninhos.

“Tudo tem seu tempo certo”, diz a Bíblia; era tempo de unir nossas vidas quando a Providência nos encontrou. Não dava para fugir.

Tivemos muitos momentos de alegria e outros de tristeza; muitas dúvidas, alguns desencontros; ganhamos experiência, fizemos e refizemos inúmeros planos. Temperamentais, fortes e transparentes como somos, não conseguimos ser mornos ou apáticos nesses anos de convivência; defendemos, sempre, com vigor os nossos posicionamentos, mas nunca nos desviamos, com todas as nossas falhas, do objetivo de zelar pela continuidade da nossa família.

Refletindo bem, aquele amor que chegou devagarinho e parecia tão frágil, ao longo do tempo se fortaleceu e se tornou uma sólida estrutura, nem sempre visível a olho nu destreinado, mas que logo mostra a sua força quando se faz necessário.

Nossos filhos já perceberam que não é fácil destruir esta edificação, e mesmo reclamando da intromissão familiar em suas vidas de jovens adultos, sabem que podem contar conosco, e buscam apoio quando precisam. Há poucos anos, eles pareciam crianças que ganham um presente novo, na igreja e no restaurante, participando ativamente da comemoração das nossas Bodas de Prata: na entrada solene para a missa, na apresentação das alianças, no gesto das mãos estendidas nos abençoando, nas brincadeiras da família e amigos, e nas fotos do jantar. “Melhor festa que participei”, disse uma das nossas filhas.

Sabe, meu querido, em nosso relacionamento transpusemos a fase da infância, adolescência, juventude e ficamos adultos. Não se cresce impunemente. Todas as nossas etapas deixaram uma lembrança, um sinal, uma marca. Deste ponto de vista não somos diferentes dos diversos casais.

Hoje, porém, enquanto muitos estão começando uma vida em comum e outros não estão mais juntos – por uma ou outra razão - o nosso relacionamento já entra na fase da maturidade após trinta anos de uma conquista divertida, titubeante, repleta de surpresas. Não falei e sequer pensei em velhice, fique bem claro isto!

Quando o fruto está na fase de maturidade, de amadurecimento é que gostamos de saboreá-lo. Aproveitemos, então, essa colheita farta dos anos de paciência e cumplicidade nos quais construímos e derrubamos muros, desfizemos arestas, pintamos cores novas em nossas vidas, cultivando o nosso casamento sem deixar que o sentimento que nos uniu ruísse diante das intempéries que vivemos. Hora de alegria, de compromissos mais leves, de saber viver cada vez melhor.

Obrigada por ser você a pessoa que, mesmo sem entender claramente essa minha personalidade inquieta, sonhadora, ao mesmo tempo racional demais, uma “típica geminiana” (dizem alguns), aceita e até se diverte com as reações desta águia que gosta de ver o mundo do alto, de ver o infinito, mas sempre retorna ao ninho.

O AMOR sempre me faz retornar... ele é a coleira invisível de ouro que me prende a você.

Dalva da Trindade S Oliveira

15.09.2010 19h14m