Carta para Helba
 
Querida Helba,

Você nem pode imaginar o quanto senti ter falhado com você. Espero um dia poder me redimir. Sua atitude foi de uma pessoa realmente capaz de compreender: li em seu perfil que é Espírita e os espíritas sempre têm essa grandiosidade de alma. Não sou Espírita mas também acredito em uma vida além desta e isso certamente torna mais fácil a minha vida. Ao falhar com você, graças a sua compreensão, aprendi que preciso relevar atitudes de outras pessoas que aparentemente falharam comigo.

Então mineirinha, como São Paulo tem lhe tratado? Se um dia aparecer por aqui será tratada a pão de queijo, pamonha, melancia e jabuticaba. O pão de queijo eu mesmo fabrico em minha Fábrica de Pães (Tenho uma Padaria, você sabia?). Mas a pamonha e as frutas dou um jeito e compro.

Li alguns textos seus que ainda não tinha lido: sobre o mineiro chileno (Estávamos lá, no dia do resgate, meu irmão e eu) , o aperto no peito que você sentiu no dia das eleições também senti ( e sinceramente, continua), a carta aos ministros. Li a Resenha de Cem anos de solidão, um livro realmente fascinante, daqueles que a gente inveja não ter escrito e fica triste quando vira a última página. Um dia certamente lerei de novo
.

Sobre sonhos, houve um tempo em que me interessei muito por eles. Li tudo o que podia sobre o assunto e resolvi alguns problemas pessoais. A conclusão é que eles têm tudo a ver com nossa vida real e somos os únicos que podemos interpretá-los desde que realmente queiramos fazer isso. Meus sonhos eram verdadeiros pesadelos, eu sempre estava enfrentando alguma dificuldade que me deixava em pânico, mas quando a hora chegava eu resolvia tudo de forma mais simples possível. A conseqüência do meu estudo é que deixei de me agoniar. Mesmo agora com minha doença é o que está acontecendo. Na hora certa eu resolvo, penso. Talvez por isso esteja quase boa.

Sobre seu sonho me chamou atenção o fato de você ter visto tudo, ter sentido, mas ter se recusado a falar sobre o assunto. Desculpe-me se nele me
 intrometo.
 

Li também os fragmentos de seus outros sonhos, cheios de naves, aviões, desastres naturais, pânico. Você tem um grande material para estudar seu subconsciente.

Você também me deu uma boa idéia já que tenho dezenas de sonhos rabiscados. Sonhos de outros tempos, dessa época em que eu os estudava. Vou aproveitá-los em textos.

Mas não deixe seu sonho de ter um Lar, doce, lar, de 70 m quadrados se evaporar. Continue confiando que é uma mulher batalhadora e capaz. Sua semelhança com o filho da tal mulher é ínfima. Mas tenho que confessar: não tenho a menor idéia de qual seja o seu trabalho.

Fez bem em nos trazer o poema de Camila. Ela tem potencial, é criativa e original.  
 

Sou mineira desde que nasci e juro, nunca ouvi a expressão naba ou nabada. Mais uma que aprendo para usar na hora certa com toda minha elegância mineira. Agora, você me despertou o interesse para ler o Wilson Amaral e assim que der vou até lá para conhecer tão simpático autor.  
 
Sua carta para Vicky me fez lembrar que a Jade (cachorrinha do meu sobrinho) está ficando bem velhinha e que não deve demorar muito para também deixar sua carcaça para trás. Foi uma surpresa você tratar a Vicky como se fosse uma pessoa, dotada de corpo, alma e espírito. Bem, preciso explicar. Seguindo o que acredito, alma e espírito são coisas completamente diferentes: alma é aquilo que anima, dá vida, portanto todos os seres vivos têm, mas Espírito é muito mais que isso, é o que realmente nos faz semelhantes a Deus. Mas acho que nessa carta não cabe estabelecer isso, vamos deixar para outra ocasião.

Acho que esta carta está ficando muito longa. Só posso lhe dizer que está sendo um prazer conhecer você melhor. Mas queria lhe pedir outra vez: mande o seu endereço, quero mandar-lhe um livro como lembrança tão logo comece a minha vida de rueira outra vez. Por enquanto, embora já me sinta capaz de sair sozinha, minha família não permite. Também chove muito.

 
                         Um abraço cordial com os votos de um Novo Ano pleno de realizações.
 
                             MOlimPia.