Sal e Água

Fazia tempo que eu não chorava. Veja bem, instantes inteiros de alegria que remediavam minha tristeza. Nem palavras, nem filmes, nem medos me tiravam o sorriso do rosto. Mas hoje alguma coisa mudou e foi dentro de mim, já acordei triste e permaneci triste ao longo do dia. Onde foi parar minha alegria?

Desculpa, mal te dei oi né, darling... Ando tão preocupada que às vezes parece que nem vivo. Injustiça, eu sei. Tenho tantos bons amigos, tantos bons momentos, mas parece que os meus erros nunca serão perdoados e muito menos esquecidos. Ai, ai, darling... É sempre de noite que eu te procuro, percebeu? É que o mundo fica tão quieto que parece que o meu coração grita e isso tem me assustado tanto! Meus ouvidos andam sensíveis e minha boca tem escolhido melhor as palavras antes de falar e mesmo assim me sinto tão pouco, tão menos, e fico triste. Essa nostalgia, melancolia, (loucura também) faz com que eu me sinta aos 90 anos e estivesse passando um cafezinho esperando a morte chegar, atrasada cinco minutos para o nosso encontro. Não gosto de atrasos, você sabe. Claro que os tolero, mas não os aprovo.

Andei pensando nos porquês da vida e até achei algumas respostas. Por que te escrevo tanto? Escrevo porque eu sei que ninguém, além de você, se importa.

Eu to com uns hematomas na perna que estão saindo já... E eu sei que assim é com a vida também. Algumas coisas marcam, umas passam despercebidas, outras deixam cicatrizes. Eu tenho tantas cicatrizes... A maioria é no coração e isso me atrapalha um pouco, esses remendos feitos às pressas deixaram umas frestas, sabe? E por ali escorre grande parte das coisas que eu sinto, como por exemplo o medo, que encontra no meio do caminho meu pulmão, e também sai de fininho por ali a esperança, essa se espalha pelo sangue e volta sempre renovada. Mas, de verdade, acho que o problema é esse corpo que é pequeno demais. Quem foi que disse que em 165 centímetros caberiam todos os meus sonhos?

Eu sei, não precisa me dizer mais uma vez que eu sou romântica, sonhadora, otimista e que essa carta (como a maioria delas) não combina com a minha pessoa "ao vivo". Só que hoje eu estou triste, entende? Não te peço resposta, nunca te pedi retorno. Escrevo pra ti porque te acho admirável, porque você respeita a minha dor com o silêncio e eu acho isso muito elegante.

Desculpa as letras borradas de lágrimas e vê se não fica triste... Essa carta não é pra espalhar a tristeza, é pra dissipá-la até ela sumir, até eu não precisar mais escrever nada, nem escutar nada, nem chorar por nada. Até tudo ser silêncio.

11/12/10