Síndrome do Sou Assim

Continue a contar Caymmi: “Eu nasci assim, Eu cresci assim, E sou mesmo assim, Vou ser sempre assim...” Eleja mesmo a ausência da mudança sua aliada preferida... Segurança é tão bom, não é?

E já que optou por ser “sempre assim”, guarde mais a mania de manter... Não é verdade que a coerência permanece um inestimável valor?

Dedique-se a fazer de seu hoje o clone do ontem passado para requentá-lo amanhã... Quem ousou afirmar que a dinâmica do tempo não é a maior de nossas ilusões?

Não vê o rio à sua frente? Ele não é o mesmo desde que nasceu? Não é um alívio contar com a mesma água duradoura para lavar seu fixo ser?

Então... agarre-se àquela antiga mágoa, ela que, tal e qual à água parada não pode verter para não correr o risco de evaporar.

Enfeixe nessa mágoa marcante os seus dissabores, desilusões, decepções, suas dores e rancores... Se pouca coisa boa é bobagem, transborde-se!

Para o bem da harmonia, freqüente as mesmas pessoas, faça tudo como sempre fez... Para que encarar o diferente?

Investigue os mesmos fenômenos, acarinhe os mesmos seres, centre-se nas costumeiras relações... Trocar o certo pelo incerto... que graça tem?

Faça mais! Se o novo se aproximar, esconda-se em sua falta de coragem; se alguém aparecer falando em mudança, tape os próprios ouvidos com as suas sempre mesmas mãos.

Resista! Não tente, não ouse, não crie!

Só não venha um dia me dizer que se pegou morta de pé, posição que se preocupou em preservar idêntica vida afora, esquecendo-se até de cair.