Sonhos

Sonhos:

É difícil imaginar um romance, além das grades, que possa saciar-me esta minha sede de paixão.

Assim, eclipso-me na solidão da minha cela para paragens longínquas, fugindo da loucura desta selva de aço.

Dentro da escuridão, fujo às luzes que me ofuscam, procurando um meio de conseguir arrancar, do corpo, constrangimentos medonhos e insuportáveis, que me dilaceram a alma, nesta fria loucura parece-me observar o interior de mim mesmo, procurando ver o animal que sou.

Não consigo deixar de pensar no ambiente hostil que me rodeia, em que os rostos deixam perceber navalhas nos espíritos e gelo nas fisionomias, indivíduos tímidos, inquietos, de fraca vontade, que me parecem habituados ao cárcere.

A frieza dos homens insensibiliza-me para as coisas boas da vida, fazendo as ideias desmaiarem a longo do tempo.

Sonhar é a única extravagância a que me posso dar ao luxo, já que a carência de oportunidades me faz perder a noção de vida.

A recusa dos factores evidentes, sombras, lacunas, o espírito a divagar à toa, dá-me, por vezes, a convicção de que me vou chegando, mais, da treva completa.

Entre farrapos de realidade e sonho, a minha vida anterior diluiu-se entre as visões concretas que se esboçam em nuvens fantasmagóricos, manchas indistintas que me povoam os sonhos.

Perco a noção do tempo, nos largos espaços obscuros dos sentimentos, criados em mim, enquanto se realizam, na minha mente, operações confusas.

Com o surgir da noite ganho um novo alento e para continuar refugio-me no sonho da vida, para continuar a esquecer os dias que passam, as névoas do meu espírito diluem-se na obscuridade do meu ser.

Escancaro as portas da mente e deixo sair os pensamentos oprimidos, deixo desabrochar sentimentos que eu pensava já nem existirem em meu coração.

As reflexões tendem a justificar a inércia do meu comportamento, então pego em pedaços de papel e coloco neles toda a frustração conseguida com a monotonia da prisão e revivo pedaços de amor, de outrora, que guardo em minha mente.

Sou um jovem que, por me ter deixado levar pelos impulsos da juventude, acabou por perder a verdadeira descoberta do amor-próprio da adolescência.

Olhem para o meu caso, para o farrapo em que me transformei, antes de agirem sob os impulsos da vossa mocidade.

Carta escrita por um ex-aluno meu, que me pediu para a dar a conhecer. Um alerta para evitar que muitos outros jovens caiam nas mesmas armadilhas da vida em que ele caiu.

Francis Raposo Ferreira

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 27/06/2011
Código do texto: T3060700