Data de validade

08-10-2011.

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Comprei um livro essa semana - "A promessa" - , pelo qual não dava muita coisa pois era mais um dos milhões de romances que têm retomado fôlego nas livrarias, mas terminei lendo-o em menos de 3 dias (280 páginas) e talvez a ficção tenha me ajudado a entender um pouco mais meu papel na vida de algumas pessoas.

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O livro fala sobre vários amores, sobre traições, perda de confiança, doenças, família, solidão, reencontro consigo mesmo, milagres e sobretudo de viver o agora o mais intensamente possível já que na maioria das vezes a felicidade tem data de validade.

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Eu me identifiquei porque vivencio tudo isso há pelo menos 5 anos. Mas talvez ler as palavras impressas narradas por outrém com algum toque de fantasia tenha me feito compreender meu papel na vida de algumas pessoas, ou ao menos re-entender meu papel.

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Isso me fez lembrar o sotaque gaúcho de L., o cabelo liso vermelho, o sobrenome alemão, os barulhinhos da caixinha de tic-tac e o gosto musical que me apresentou "Lips like sugar", me fez assistir ao filme "Rei Arthur" e adentrar um mundo místico. Foram dois anos de muitas risadas, algumas lágrimas e tormentas, muito romance e um final sem despedidas, triste, ressentido. Ela ainda deve se perguntar ou achar que fui um erro...eu gostaria que ela conseguisse só lembrar da felicidade que compartilhamos, mesmo em um breve tempo e que isso fosse o mais importante.

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Lembro também de E., de seu talento para escrever textos, de seu blog espirituoso, de seu apego à família, de seus cuidados com plantas e cachorros, uma pessoa maravilhosa. Por alguns meses trocamos sentimentos e sonhos. Tudo terminou com mágoas também. Espero que ela tenha conseguido viajar pela Europa como sempre sonhou, experimentando a sensação de liberdade e encantamento com outras culturas como eu estava fazendo quando tivemos nosso primeiro contato.

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Lembro de De., a menina lutadora, de família, que me fez "pasmén" ouvir pagode romântico na madrugada, que escrevia belas poesias e tinha um sorriso que iluminava todo um quarteirão. Durante os meses que estivemos envolvidos eu fui feliz e me empenhei para fazê-la feliz porque sabia o quanto ela merecia. Quando eu precisei ir embora, não houve adeus, só mais mágoas.

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Lembro de C., o grande amor da minha vida, o melhor e o pior de mim mesmo, a pinta na bochecha, a sagacidade nas palavras, a paixão pelo jogo de pôquer e o estilo nerd/geek, a futilidade de menina rica que não se sobrepunha à consciência crítica e inteligência, os cabelos curtinhos ruivos, a sensualidade à flor da pele e a bagagem cultural de viagens e moradas internacionais. Alguém para rir a madrugada inteira e ver o sol nascer num piscar de olhos. A sensibilidade meio escondida por trás da fortaleza de quem sofreu tanto e ainda sofreria mais. Foram poucos meses, mas tão decisivos no meu destino e no dela. Restaram lágrimas, mágoas, raiva, vinganças e por fim talvez alguma indiferença. Mesmo assim ela está dentro de mim e dos meus pensamentos quase sempre, mesmo eu tentando esquecê-la nos meus porões interiores.

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Houveram outras, também importantes, W.; D.; Cl.; N., todas que eu amei com todo meu coração, com todo meu espírito e a quem fiz sorrir e chorar, á quem dei felicidade e tristeza, com as quais compartilhei dos melhores sonhos até que a realidade se apresentasse e eu precisasse partir.

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Não parti poque quis, mas porque precisava ser feito, era a hora e eu não consegui me despedir da maioria delas pois admito ter sido fraco e ter sentido medo de não suportar a dor. Somente com C. foi diferente, eu parti e voltei tantas vezes e agora, mesmo de longe, mesmo seguindo um outro curso, ainda acompanho seus passos, ás vezes magoado, ás vezes somente desejando-lhe a felicidade completa que não pude lhe dar.

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Algumas pessoas não foram feitas para a eternidade, o destino não me concedeu esse privilégio e por isso permaneço como um ser vagante desse mundo, encontrando pessoas, dando-lhes meu melhor e depois indo embora sem olhar para trás. Talvez aos olhos alheios isso faça de mim um crápula, mas jamais poderão dizer que deixei de viver a intensidade de uma vida afetiva, de amor, carinho e devoção em cada momento por mais efêmera ou prolongada que tenha sido sua duração.

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Isso não faz meu coração ficar menos pesado ou diminui a minha culpa pelas dores que causei, nem me ajuda a resignar-me com meu papel, mas me dá um rumo, mesmo que eu o saiba incerto, triste e solitário.

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Amar de verdade, pode ser uma experiência muito diferente do que convencionamos desejar, mas isso não significa que se deva desistir. Apenas, talvez manter a mente e o coração aberto para o que vai além da visão cotidiana...

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Corvo.