CARTA DE UM SONHO

Brinca-se muito, arrepia-se também. Será susto, frio ou vontades? Será cansaço e a vontade de dormir? Só não dá pra pensar enquanto dorme. Dá pra sonhar! E nos sonhos pode ser que haja companhia...

As companhias regam, como água que molha a terra e refresca – ou aquece! E tem também o que as companhias podem ver e ouvir e na privacidade do sonho não há portas nem cortinas que precisem ser fechadas. Tudo é aberto, tudo é claro e a imagem é nítida. Não! A imagem nítida é a imagem real: aquela que permite o toque, a troca.

E é no sonho que palavras, pensamentos e ações tomam suas formas perfeitas, onde oralidade e escrita são substituídas pelo desejo do que pode ser. Afinal, sonhos podem ser realidades amanhã.

O sonho é imperativo: ele toma todo o corpo, passa por todo ele, cobre-o. E o sonho faz o corpo reagir. E ele reage. Afinal, o sonho surge para cobrar o que na verdade existe: dívidas consigo mesmo e com os outros. E nos sonhos tudo pode acontecer. Contanto que as dívidas sejam pagas na realidade da vida. Com juros, se assim for.

O sonho permite tremores que às vezes são camuflados na realidade. O sonho traz deserto ou oásis... Faz tudo acelerar ou relaxar conforme toma suas formas e mostra suas intenções. E segue revelando mistérios, curiosidades, esclarecendo dúvidas. O sonho revelando reciprocidade, vontades, viagens.

O sonho esclarece o que deve ser e o que não deve ser. E o sonho tem poder de matar, sugar energias e repô-las igualmente. Ele mostra tudo, ou quase tudo. Mais: revela em partes...

E no sonho há liberdade. Despe-se de tudo, como que desnudando o corpo das roupas. Ainda que haja pudores, eles são canalizados, e seguem para libertar e fazer pássaros voarem. Daqueles encantados, que não se prendem em gaiolas nem por portas... Não se limitam a distâncias nem linhas. Pássaros contemplados em sonho.

E no sonho do possível novas experiências e aprendizados, práticas que, repetidas, proporcionarão satisfação interior que, só, não se alcançará! E quando o aprendizado é em conjunto os resultados trazem mais detalhes, acrescidos de dois e não um.

Um sonho em que não há somente caças ou caçadores. Ou ambos, e seus amores. Que sentem, vêem, entram, podem, saboreiam, tocam, respiram, cheiram, querem e fazem. Porque quem quer, faz. Vence a vergonha e a timidez e ganha a doação. Doa-se ao outro, e um novo começo surge. O começo da volta da própria essência. Eis o encanto.

Não é estranho, não é errado... É só um sonho, sem atalhos e seqüencial, que pode durar até mesmo uma hora!