Carta para um Poema Inacabado

Querido poema que não terminei,

BEIJO-TE A ESSÊNCIA COM CARINHO

Estava eu na plenitude da maturidade quando resolvi abrir o meu caderninho de anotações... sabe aquele que na aurora da existência usamos para gravar nomes e frases inesquecíveis, aquele em que vamos registrando aos poucos as mudanças que a vida nos imprime e pessoas... aquelas especiais que nunca nos saem?

Então foi isso... em meio a tantas memórias, frases e nomes, encontrei-te ali com poucos versos soltos, brandos e inacabados...

Encharcados de emoção, deram aos meus olhos um brilho júlio e aos meus lábios a pronúncia de muitos nomes de que não esqueci...

Temi por muito tempo ler-te de novo e agora me vejo diante de ti, como se sempre estivesse a escrever esta incansável trajetória pertinente à vida...

Sabe, poema meu... percebo que das muitas coisas que deixei, tantas ainda estavam latentes dentro de mim e agora reflorescem como uma orquídea que se entregua subitamente à minha porta...

São sonhos que dormiram pelo efeito das dores que obtive e causei, passagens que fizeram de mim o que hoje sou e tudo o que desejo neste momento é adormecer pra poder sonhar mais uma vez!

Ter te achado ali, guardadinho nas prateleiras da minha alma está significando tanto para minha vida que nem sei se é possível imaginar quão importantes são para mim as tuas estrofes esquecidas. Relendo-te, eu revejo minha imagem dantes tão absurdamente invisível aos meus olhos e acredito de novo que sentimentos podem ser eternamente revisitados, ainda que nem por todos os mortais.

Poema meu, pudera eu continuar a composição dos versos que escrevia no tempo em que a juventude me fazia crer em tantas coisas que as dores do caminho me fizeram abandonar. Infelizmente tomei tantas estradas sem retorno e tenho que seguir sem poder desviar a mirada e isso me subtrai a inspiração de que precisaria para escrever as tão cálidas palavras que, de tanto andar sem tempo de parada, acabei deixando para trás.

Tudo o que posso agora é escrever-te essa missiva um tanto dorida e afloreada pelas saudades tão gritantes dentro de mim, saudades dos momentos doces nos quais não prestei atenção e das pessoas que estiveram comigo de modo tão abundante que não consegui a necessária nobreza para enxergar. Por isso peço-te a vênia para verter destes olhos vis as lágrimas furtivas que durante tanto tempo segurei.

Peço-te humildemente, meu poema inacabado, para saltar o espaço dos versos brancos os quais durante tantos dias de primavera e tantas noites de delicioso inverno eu poderia ter escrito, para continuar compondo o tema que se confunde com minha história dos tantos sentires e pensares que me fazem hoje o que verdadeiramente sou, pois se ainda valho a pena, com certeza é por força da inocência, do sorriso largo, do amor e dos sonhos que ainda me restam e é disso que necessito falar.

Não hei de me despedir de ti... aliás, nunca mais quero falar em despedidas, pois nas tuas linhas eu deitei a menina triste e sonhadora que me aflora neste momento e ainda desejo acordar a mulher que pode sonhar sem o manto da tristeza e seguir com a beleza de criar versos límpidos de amor, dedicados tão somente quem jamais poderei esquecer... versos simples a se misturarem nesta passagem que certamente há de fazer a diferença nem que seja par estes restos de papel que ousei encontrar e neles tornar a escrever...

Nalva
Enviado por Nalva em 22/02/2012
Código do texto: T3513844
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