Sobressalto

Hoje percebi que poderia amar novamente. Deixei alguns instantes passar, uma eternidade me custou. Repeti à lição, receoso de reprovar.

Fiz-me celibato. No meu silêncio endureci-me, afastei-me da vida, do amor. Perdi o que já mais não tinha. Rispidamente afastei quem me amou. Passaram-se dois anos até redescobrir o prazer do amar, do se preocupar até então adormecidos. Esquecidos nas catacumbas do meu ser. Fiz-me distante de tudo. Predestinei-me a não mais amar ou nutrir qualquer resquício de tão sublime e pavoroso sentimento.

Sublime, porque é este que a sua maneira impulsiona o homem, alimentando-o de esperança. Pavoroso, pois nos torna escravos incapazes de se rebelar contra esta força tão viva, tão feroz. Senti-me meio perdido ao descobrir que ela novamente alojou-se em mim.

Dois sentimentos se misturaram não sei a que dosagem. Receio e Euforia compartilham deste meu corpo tão humano. Receio de não ter o que desejo, de amar e não ser amado ou de ser incapaz de amar. Eufórico por saber que ainda sou humano e que tenho o direito e mais que o dever de ser feliz, regra máxima do homem. Pude descobrir que para voltar a amar, se assim posso dizer, depende de mim mesmo.

No último ano da minha clausura afastei qualquer hipótese de felicidade. Retornei a forma bruta, desprezei-me, esqueci-me. Desfigurei-me. Encerrou-s este período (de trevas) e agora me refaço humano, divinamente humano.

Talvez eu quisesse esconder de mim mesmo sentimentos e sensações que por serem incontroláveis temia.

Rogevanio Alves Santana
Enviado por Rogevanio Alves Santana em 22/07/2005
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