memórias da depressao ii

Quanto mais eu necessitava de afeto, mais punhaladas me eram dadas, mais cusparadas na cara, mais cotoveladas, mais desprezo. A dor era contundente, a dor era excruciante, era visceral. eu não tinha nascido para aquilo, mas a violência foi muito maior do que eu podia esperar. muitas palavras me feriram, muitos me negaram comida e abrigo, me negaram amor e me enganaram. muitos tiveram a chance de m

e ajudar, e eu nao queria ajuda nenhuma, eu nao queria que ninguem me olhasse, eu nao queria nenhuma piedade, eu queria respeito. eu queria que vissem que, apesar do meu aspecto tosco, eu estava lutando, eu estava sobrevivendo um momento a mais. eu, mesmo quando levava uma queda, eu conseguia ir adiante, eu conseguia proseguir na estrada, eu queria que nao me olhassem, eu queria que ninguem tivesse pena de mim, eu nao queria receber conselhos. eu nao queria que me dissessem para cortar o cabelo, eu sabia que tinha de cortar o cabelo, eu sabia, eu queria isso, mas eu nao conseguia isso, e feri, assim, a visao de muito gente boa que teimava em me olhar. eu andei pelos charcos, andei por dentro da noite, imiscuído na sombra, eu nao queria ser visto, eu tive vergonha dos meus pobres amigos, hoje eu sei que eles tociam por mim, e que oraram e rezaram e fizeram preces e promessas para eu me encontrar, para eu me encontrar dentro de minha própria perdição, eu tinha vergonha de quem eu via pela primeira vez me olhando, eu conheci a degradação humana em seus múltiplos aspectos, e o inferno de Dante passou a ser brincadeira de criança. o DEDO estava apontado para mim e eu assimilei toda culpa e aceitei toda a condenação, eu me auto critiquei com pesada severidade, me lembrando que nao me queriam onde quer que eu fosse, e isso me fez perceber que nao estava em paz em lugar nenhum, que a multidão com grandes pedras na mão me condenava onde quer que eu estivesse, estivesse sozinho ou não, não adiantava. eu estava condenado e preso, preso de uma prisao de onde nao podia fugir, e dentro da sela estavam nao os meus inimigos, mais todos aqueles que tinham motivo para odiar, e porque eu acreditei que tinham ódio de mim, me odiavam como ser repugnante e deletérico. isso durou muito tempo, isso é muito denso, mas o tempo nao passava, a medicaçao nao funcionava depois de um certo tempo de uso, até o medico estava num certo desespero. a degradação estava em mim, o mal estava em mim, estava porque eu nao via que podia deixá-lo num canto da estrada e seguir a vida levemente, feliz. eu nao acreditava na felicidade e uma conclusao bizarra chegou até mim, a de que meu destino era SOFRER, e sofrer mais ainda, sofrer a vergonha de está sofrendo, sofrendo aberta e socialmente, sem a possibilidade de esconder, sem tapetes para onde eu pudesse empurrar o lixo, isso nao teve graça nenhuma. mas agora, ja a certo tempo, depois que fui resgato pela poderosa mao de DEUS, eu vejo que nao era apenas eu que estava sofrendo, meus amigos estavam sofrendo tambem, pessoas distante de mim estavam sofrendo tambem, gente que me admirava estavam agunstiados por nao poderem fazer nada, a vontade era grande, a vontade de me resgatar era grande, mais eu estava com os olhos enterrados na lama. Eu voltei, eu fui resgatado porque nao suportava mais ser torturado o tempo todo, entao eu comecei a orar, a rezar, a fazer uma prece bem baixinha garimpando a voz dura de dentro do meu ser, enquanto a garganta estava engastada pela dor, pela tristeza profunda, pela tristeza sem sentido, pela amargura, pelo recentimento enraizado na alma, pela estranha possibilidade de admitir a fraqueza, a falta de força, pela possibilidade de pedir ajuda, pela loucura absurda de ter quem me ajudasse, meu Deus, é possível que alguém me ajude... pela admição de que eu tambem era humano, e que não tinha a obrigaçao de sorrir quando estava esmagado sob o peso tremendo do mundo inteiro, de tudo quanto era errado, de toda e qualquer falha, eu orava, e rezava e fazia uma prece sem saber que isso ia me salvar, sem ter certeza disso, eu orava e rezava e fazia uma prece porque eu nao tinha mais nenhuma alternativa, nenhuma filosofia havia resistido, toda ciência havia me abandonado, meus poetas de grande sabedoria, nada, nada havia resistido a ferocidade do sofrimento humilhante que havia seqüestrado minha alma dentro de mim mesmo, nada, nem mesmo as oraçoes prontas eu sabia mais, mas eu orava, eu fazia uma prece, eu rezava, eu me apegava a estranha possibilidade de ser ouvido. e isso nao é de nenhuma forma engraçado, meu coração estava sem emparedado, meu sangue estava frio, e parado, toda minha energia tinha sido consumida pelo medo, pelo medo diante da visão de uma queda absoluta, de uma queda maior, eu estava desesperado, existia objetos cortantes perto de mim, eram muitas as possibilidades, meu desespero desequilibrava a paz de quem me via, e tinham medo de mim quando eu tinha medo de tudo, de tudo, inclusive de mim mesmo, e onde quer que eu estivesse, sempre estaria comigo mesmo, não podia fugir da possibilidade de uma destruição mais profunda. Mas, apesar de parecer que eu já estava vencido, encontrei na prece, na oração, na reza uma forma de me comunicar com alguém, no início eu nao sentia, mas eu quis acreditar que tinha alguém me ouvindo, apesar de eu sofrer em mim mesmo o abandono de todos aqueles que eu esperei que nunca me abandonassem, e depois eu comecei a pedi para DEUS me resgatar, para DEUS, para DEUS, admitir essa minha fraqueza me fez sofrer até a convulção da lagremas, e eu estava escondido de portas fechadas no escuro para não espantar ninguém com meus aspecto horrível, eu estava na escuridão infernal, e foi de lá que eu gritei, eu gritei para DEUS me estender a Mao, mesmo que a minha estivesse poluída e asqueroza, que ele me segurasse me apoiasse naquele afunilamento dos sentidos, eu estava caindo de cabeça no poço da loucura, eu sabia que estava perdendo de vez a sanidade, isso não é arte, isso não tem nenhuma graça, eu tinha feito muita gente sofrer, eu sabia que nao merecia qualquer misericórdia, mas eu pedi, pedi assim mesmo, eu pedia para DEUS me segurar durante minha queda, eu pedia para DEUS evitar alguns choques, que se eu fosse cair mesmo, que nao fosse com tanta violência, mas que se tivesse que bater com violência, que não batesse a cabeça, mas se eu tivesse que bater a cabeça, que nao fosse com tanta força, e que se tivesse que ser com muita força, que eu não morresse, mas que restasse em mim a mais mínima vida, que eu resistisse mesmo que ficasse com grandes seuelas. de tanto eu pedi, eu passei a ter uma certeza, que se DEUS estendesse sua mao até a minha eu poderia resistir, e eu lembrei de que JESUS disse para Pedro não ter medo, e vi que eu tinha uma chance, e eu tive. e eu estou aqui livre, eu estou aqui decidido, certo do que tenho que fazer, manso, sem medo, em paz, com fé, no amor. e como sei da necessidade de relatar isso, porque alguém pode se segurar nesta corda e sair do abismo, que todos os meus amigos que estejam passando por um problema assim sejam menos duros que eu, sejam mais espertos que eu, e veja que a mao de DEUS está sempre estendida, aberta e expectante, uma ponte sobre o abismo, que ninguém tem que cair no abismo, que ninguém tem que fazer o que eu fiz, que percebam o quanto antes a mao de DEUS pronta para lhes trazer para um abraço. DEUS ABENÇOE A TODOS. ASSIM SEJA.

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 15/10/2012
Reeditado em 15/10/2012
Código do texto: T3933170
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