Uma carta, para Você.

Hoje, estava por acaso, relendo algumas antigas anotações, em antigos diários, e pasmem, encontrei o dia em que lhe conheci...

Foi há tantos anos atrás, que me sinto em duvida, se esta carta está chegando atrasada...

Mas mesmo assim, vou escrevê-la e provavelmente não vou mandá-la.

Como você bem sabe...

Mas eu saberei faze-la chegar ao seu conhecimento, de uma forma ou de outra você saberá o que está em minha mente neste momento.

Onze anos, três meses, sete dias, quatro horas e meia, não imagino os minutos sequer pensei nos segundos...

É este o tempo em que lhe conheço.

Você é o homem que caiu do céu...

Pelo menos para mim...

Você literalmente caiu em cima de mim...

Eu me recordo que senti dor na cabeça que se chocou fortemente com o chão frio do pátio da escola...

Você se levantou com dificuldade e depois se virou para mim, com a face vermelha de vergonha e me ajudou a levantar, ainda não entendo do porque da sua vergonha naquele momento, afinal você não escolheu ter o valentão da escola no seu pé no seu primeiro dia na nova escola, e muito menos ser jogado do segundo andar da escola, quando você nunca teve vergonha, quando realmente me machucava por querer.

Mas ainda não chegou o momento de falarmos disso...

Eu estou escrevendo isso, porque no fundo sou masoquista e gosto de sofrer, não fisicamente, mas emocionalmente, faz tempo que não me atinge fisicamente, mas no fundo nunca era tão doloroso quando você o fazia emocionalmente.

Mas em minha mente pratica, estou aqui, porque você me fez uma pergunta, naquele dia, e vejo que muito do que houve entre nós pode ser explicado pela ausência desta resposta.

Não falarei aqui a pergunta, pois bem sei que você se recordará; você nunca se esqueceu de nada...

E a resposta é...

Não.

Era em um parque, talvez uma cachoeira, se eu pudesse naquela época ir para tal lugar sozinha...

Eu queria estar sozinha...

E não ali, não olhando em seus olhos, não segurando sua mão, para me levantar.

Eu sabia, como que se uma voz em minha mente me dissesse que se eu pegasse em sua mão, naquele instante eu jamais poderia voltar atrás.

Temo dizer que também nunca o quis fazer.

Mas a verdade é que eu não queria.

Você não sorriu, apenas me olhou e sem soltar a minha mão me conduziu até um banco...

Meu irmão mais velho veio correndo, em nossa direção, e você não soltou minha mão...

Ele lhe olhou e você apenas disse: não foi minha intenção feri-la.

E foi quando eu ouvi sua voz pela primeira vez.

E você soltou minha mão, e não se virou para falar comigo, meu irmão olhou para mim e disse: aposto que você vai ficar amiga, deste estranho...

Se ele tivesse apostado dinheiro teria ficado alguns trocados mais rico...

E durante cinco anos, você foi meu amigo, nunca brigamos, nunca trocamos ironias, nem insultos,

Mas um dia houve um beijo...

E você me fez a mesma pergunta.

E noto só agora que também não lhe respondi, e sei que tudo o que ocorreu depois daquele dia foi culpa desta falta de resposta.

E ela era...

Sim.

Eu não trocaria, aquele dia por nenhum outro...

Mas eu não disse e você também nunca mais perguntou...

E nunca mais houve nenhum outro beijo...

Não me lembro do porque de não ter lhe respondido.

Mas pelo o que eu me conheço, e pelo o que eu ainda me lembro daquele dia, foi unicamente por medo, não da pergunta, não da resposta, mas sim de não saber qual seria a sua resposta para a mesma pergunta...

Você sempre foi um mistério para mim, era sempre um livro cujo capitulo eu sempre tinha que estar lendo, e às vezes achava que sua historia mudava de um dia para o outro.

Eu pelo contrario sempre fui, um livro previsível, você sempre soube tudo sobre mim, e nunca entendi até hoje de você ter me perguntando, pois para mim, você sabia a resposta.

Mas creio, que você fosse o único que não se dava conta disso...

E durante três anos, tudo mudou...

Não no começo, mas eventualmente, surgiam farpas de ironia, alguns acessos de raiva, algumas brigas com motivos outras sem... algumas agressões físicas decorrentes de nossos gênios fortes...

Isso não alterou nossa amizade, muito pelo contrario, éramos verdadeiramente amigos...

Mas eu sentia falta, do potencial que havia antes, mas eu não sabia que era disso que eu sentia falta, nem sequer tinha consciência da falta.

Mas ai nos últimos três anos, dois meses, quatro dias, sete horas, vinte e dois minutos e alguns segundos, tudo se perdeu...

A dor, que você me impôs foi tão dolorosa, e ainda carrego a cicatriz, mas não é nem de longe, a que mais me dói...

Quando você teve a intenção de me ferir...

São aquelas invisíveis, que ficaram em meu coração, marcadas a ferro, por sua voz, fria, tão distante da que eu ouvi pela primeira vez.

Sinto lhe dizer que foi àquelas palavras ditas sem emoção foram as que mais me magoaram...

Se você as tivesse gritado, não teriam me ferido tanto...

A verdade mais cruel de minha vida, é que eu sei que meu algoz, é também minha maior vitima...

Sei o quanto eu o fiz sofrer, eu ouvi tudo o que me disse e sinto muito...

Desculpe pela minha covardia anterior...

Talvez se você pensar que eu era muito nova, não lhe machuque tanto...

Talvez, não...

Mas eu só escrevi esta carta, para lhe dizer uma coisa, e desconversei, ou como você costumava dizer, descrevi um ato inteiro, quando somente era necessária uma fala...

É que se você por algum motivo ainda quisesse me fazer à pergunta...

A resposta seria,

Sim...

Sempre.

®Vivian Drecco ©.

Vivian Drecco
Enviado por Vivian Drecco em 01/06/2007
Código do texto: T510041