Carta Aberta

São reflexos das horas de saudades que inventei quando sozinho procurei teu nome no amago sem espaço da minha consciência, refletidos nas memórias confusas e irrestritas dos delírios coincidentes. São reflexos da incauta luz que percorre esta vida sem sentido, dos amores incongruentes que cru desfilam automatizadas nas testas ocas da ostentação, do consumo e das plásticas. Eu percorri os mistérios da noite, amanheci sem saber por quantas estradas havia me perdido, do deserto seco fiz tua imagem da areia e o vento espalhou-a em si própria, mergulhei no tempo atrás de cada grão que compunha tua face, que me lembrassem que um dia te fiz sorrir e desse sorriso nascera a flor do oásis, mas tu passaste a brotar onde não estava, a nascer onde morria, a viver de onde me recolhia, diante daqueles destroços a lapide fria talhava meu nome completo e obrado de tanta demasia encerrei-me no silêncio desta moradia e de pé aceitei aquele exilio em busca da paz luzidia. Sob as paredes nuas as semelhanças tuas, a tez suave da campainha apertava meu ombro no abraço tardio, o toque da tua existência que não existia de fato passou a existir como fantasma a percorrer meus passos erráticos, diante da minha sombra teus olhos me fitavam, não com a complacência típica de seu tédio mas como claro espelho e vi o futuro, o presente e o passado diante dos olhos que cegara. São reflexos das horas, dos beijos na aurora, da marcha e do véu, tremi feito papel de bilhete, escrevi-o com tinta vermelha, quase essas mesmas palavras que guardei só para ti que já não acreditava no sereno da tarde, primaste os feitos adiante e das quatro paredes só levava em si aquela chama que nasce e morre num grito, talhada a ferro quente perdeu-se em si mas do que pude perceber ou aceitar, deveras pensei que se te recolhesse poderia viver com o pouco que de ti restava e não restava nada, nem uma hora, só estes reflexos na agua, na espuma da onda e da cerveja, no som distante e tardio da pororoca; vem e leva-me aonde que estejas, não me importo por quais infernos andas nem me queima mais a luz do teu paraíso, no vitral do universo és tão inevitável como o ocaso que nos engolirá, como o sol morrer e findar e uma nova era nascer, se estiveres lá minha existência se reestruturará trazidas reverberando as explosões, os acessos, as inconstâncias, o espirito destituída da matéria que hoje me limita, tão certo quanto hoje eu estar na beira de um rio praguejando essa má sorte, eu tenho esperança que este dia acabe antes de começar, no calendário eterno extirpar-se-á cada átimo da fibra dos segundos, minutos, horas ou do que quer que seja o tempo afim de que não passar um segundo longe de ti, porque cada segundo longe de ti é uma vida a menos sem teus caprichosos caprichos perfeitos, dos cachos cacheados, da beleza bonita que redundantemente pontuo porém em nada redunda, tua criação não foi perfeita, faltas na imortalidade, na onipresença, falta-te o caráter divino imperene e toda vez que olho lá fora os reflexos da aurora retraem-se e te trazem de volta em seu seio, renascida em seu conceito e é quando o desejo perde para contemplação e não és a mulher dos meus sonhos, só a mulher que sonhei que fosse e que não era, era a mulher e só, e assim continuarias sendo até o fim dos tempos, o que para mim não passa de uma divagação barata, um acaso pode se esvair, tu nunca se esvai, como a flor, o ar, a água, e termino por aqui já que o ocaso não te trará dos braços de sabe quem, e nem eu te tiraria de quem te tira um sorriso que nunca vi... São só reflexos Diego, com seus vários nome. Eu não tenho nada.

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 13/06/2016
Código do texto: T5665913
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