EXCELENTÍSSIMO SENHOR ESMO:

Fomos enfim às urnas, e o consagramos com nossos milhões de votos. Não foi o seu voto que nos consagrou. Nossos milhões de sonhos, esperanças e vidas têm as mesmas prerrogativas de que dispunham nos governos anteriores: Esperam que o senhor faça por merecer a confiança que digitamos naqueles números, como quem aposta no jogo do bicho. Deu o senhor na cabeça e merecemos o prêmio de uma gestão que nos alegre; não que nos frustre. Esperamos que essa gestão seja mais; muito mais do que uma sugestão.

O poder é todo seu. Emanou de nós, mas é seu. Não temos o volante, o controle da máquina administrativa. Se lhe demos o megaemprego mediante a promessa do seu empenho, seu trabalho criterioso e todas as medidas eficientes e garantidas para que nossa usina chamada Brasil funcione harmoniosamente, quem terá que dar conta do recado será realmente o senhor. Ganhar a cadeira executiva nacional e depois querer que o povo colabore com sua obrigação é muito fácil. Será de bom tom ficar claro que nossa parte foi feita nas eleições e continua sendo feita com, entre outras coisas, os pesados impostos sobre tudo o que fazemos, compramos e eventualmente recebemos. Eventualmente, porque muitos nada recebem, pois continuam desempregados.

Observe, senhor presidente, que nenhum pedreiro em serviço pede que o senhor faça a sua parte na obra, carregando ou traçando massa. Para tanto ele tem serventes, como o senhor tem seus ministros e demais assessores, além dos parlamentares também eleitos por nós, todos muito bem remunerados também às nossas custas. Quero dizer que somos seus eleitores, não serventes de suas obras assistencialistas para encobrir a falta de projetos e ações consistentes e definitivas. Nota zero para o "fome zero" que o senhor jogou nas costas da população, para depois culpá-la pelo fracasso.

Todos nós trabalhamos, senhor presidente. Quer sejamos empregados, informais ou nem isso, todos estamos na lida pela sobrevivência. Infelizmente, o senhor terá que fazer o mesmo, e não dá para contar com milhões de voluntários para realizar o que lhe cabe. Afinal, foi para isso que o elegemos e seguimos cumprindo com nossos encargos sociais, que fazem parte do seu numerário. Sentimos muito, mas terá que ser assim, caso o senhor queira realmente fazer história e não ser apenas uma história mal contada.

Por enquanto, mesmo vendo que as coisas não vão como combinamos, teremos que manter depositadas na sua excelentíssima pessoa o nosso voto de confiança... Mas também, senhor presidente... o que é um flato para quem já fez a... bem; deixe pra lá.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 21/07/2007
Reeditado em 26/07/2008
Código do texto: T573634
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