Recebi de Marie a carta abaixo, cheia de sensibilidade e angústia, Não tenho como  amainar sua dor. Só posso dizer que o que dói em você, dói em muita gente. Reflete em mim. Eu sinto o que você sente, mas escondo, dentro do meu finito, o que você sente.



" Escrevi esse poema e nem sei o que significa. Simplesmente escrevi. É que tive um sonho... 

Sonhei que estava com meu pai e outras pessoas numa casa bem pobre, como era a minha casa de pequena. A casa era no alto de uma montanha. Então começou a chover e a ventar.

E a casa começou a cair. E ficamos afundados na lama, sem telhado sobre a casa. Eu olhava para o alto e via a chuva, e via o morro de terra vermelha muito alto, totalmente molhado, a terra começando a descer novamente. Se não saíssemos, ela iria nos cobrir.

Então saímos por entre a lama e a água. E chegamos a um paredão de uns 20 metros de altura. Era preciso descer. Mas como? Meu pai pegou um cobertor peludo e me desceu pelo paredão.

Eu não chegava até o chão e precisei criar muita coragem para pular. Eu pulei. Então o pai viu que era muito alto e amarrou mais um lençol àquele. E desceu todas as pessoas. Eu chorava muito.

Chorava porque não haveria ninguém para descer meu pai lá de cima. E não havia como ele pular daquela altura.

Então ele foi caminhando pelo paredão. E acabou chegando numa parte mais baixa, que não havíamos visto.

Todos poderiam ter descido, pulado por ali. Eu chorava muito.

Chorava porque meu pai não quis pular para o lado de cá. 
 
Sabe, estou muito emocionada. Esse sonho me fez refletir. Hoje ainda, amanhã, eu posso partir dessa vida. Ou você. E tenho medo de partir sem ter dito tudo que precisava ser dito. Tenho medo de não ter tempo para viver tudo que sonho viver. Tenho medo de morrer sem ser quem eu gostaria de ser... sei lá... estou meio pra baixo... meio com medo..." -


Marie, no outono de sua vida.
 
José Kappel
Enviado por José Kappel em 06/05/2017
Reeditado em 13/04/2018
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