(...) socar sua cara

Eu olho pra você. Vejo o espaço da cama, o abismo no meio. Eu quero levantar, quebrar todos os pratos, jogar no chão todos os talhares. Gritar e fazer o auê, só pra você vê que eu estou ali. Que não deveria me maltratar desse jeito. Me enganar dessa forma. Eu queria puxar o lençol da cama e te jogar no chão. Gritar e gritar. Tocar fogo em todas as roupas que ela se esfregou. Bater em você, socar sua cara. Eu queria machucar você tanto quanto você me machucou. Fazer arder. Fazer sua pele arrepiar como a minha. Sentir queimar por dentro. Todas aquelas dores de barriga. Eu queria rasgar você no meio exatamente como você me rasgou. Ou nunca ter amado você. Queria atirar 6 vezes em seu coração; um tiro para cada ano que estivemos juntos. Sabe, eu queria fazer você se tremer, exatamente como eu tremi todas aquelas noites enquanto você beijava ela. Bater com tanta força só pra você entender o que eu sentir todas as vezes que você me deixou.

Mas, eu vou levantar devagar. Olhar você pela última vez, deslizar meus dedos entre as paredes. Rezar pra que um dia você se dê conta, não por que eu quero você de volta, mas porque meu ego precisa. E sabe, eu deixei o amor na gaveta, junto das cuecas. Não se preocupe, não baterei a porta com força.

Deixei café morno e um pouco de decência naquele lençol de veludo. Desculpe se esqueci a luz acesa, é que eu queria ter certeza que não havia deixado nada pra trás. Que levei comigo o mais importante. E claro, tirei meu amor próprio daquela sua mala preta.

Adeus...espero que minha partida tenha causado dor, não suportaria a ideia de ter levado tudo e não tenha ficado nada para te fazer sofrer.

Espero que goste do meu perfume, gastei um frasco antes de ir embora, só para irritar sua rinite alérgica.