Meu querido irmão




        Não poderia entender jamais o que foi para mim a sua partida. Não tive ninguém para consolar-me, não que eu estivesse só, mas somente você saberia dizer as palavras exatas para estancar meu pranto.
        Ao receber a notícia, não pude chorar. A dor que me cortava fazia com que eu gritasse entregue ao desespero. Aos poucos, abraçada pelo Deus que você ajudou-me a conhecer, comecei a louvar por cada dia que lhe tive comigo, poucos, muito poucos (perdoa-me, Deus por ser tão ingrata!).
        Hoje é um dia estranho. Acho que deveria ter sido deletado, pois de que adianta acontecer esse dia, se não tenho como comemorá-lo? Para quem ligo e parabenizo?
         Tivemos tantos momentos alegres! 
        Tenho uma lista de boas lembranças. Não é necessário muito esforço, elas me vêem fácil a mente. Algumas imagens também são tão reais: você, ainda adolescente descendo nossa rua com passadas firmes, ligeiras e largas; metido em uma camisa azul, cuja viscose movia-se ao ritmo de seu caminhar; seus cabelos lisos pareciam polvilhos de ébano, escorrendo os fios brilhosos sobre sua tez alva.
        Outro dia lembramos-nos de quando você dizia: Gaby, quando eu estiver bem velhinho, caducando, você lembra-me de que eu não gosto de leite com Nescau e nem de churros. Ela sempre retrucava com o humor que herdou de nossa família:   Serão sua dieta básica, tio!
        Como eu queria afagar seus cabelos, deitar sobre seu peito, brincar com nossas mãos, ouvir seu canto desafinado, sua voz grave gritando meu nome, ou chamando-me por maninha admirar a perfeição de seu nariz, ver seus olhinhos nadando em lágrimas de alegria (ficavam esverdeados), ouvir seu: _ Oh Glória!, contar tudo que estou vivendo, pedir conselhos...
        Você sempre foi preciso em acalantar-me. Quando eu falava, ouvia. Se lhe perguntava, tinha a melhor resposta, a mais sábia de todas. Se me calava, sabia que ficar do meu lado era suficiente, e ficava caladinho, quieto, apenas acariciando meus cabelos.
        Como era bom quando o telefone tocava e ao atendê-lo ouvia: Te amo, te amo, te amo! Beijo, beijo, beijo! Tchau, tchau, tchau! Apenas isso! Tudo isso! Era o suficiente para encantar o meu dia. Achava engraçado você repetir sempre três vezes, sempre na mesma ordem.
      Quando choro, logo me lembro do quanto você ficava desolado ao ver que eu chorava, tento conter o pranto, mas, hoje está impossível. Mesmo sabendo que descansa, agora, no seio de Abraão, choro por sua ausência, pois não consigo deixar meu egoísmo de lado.
        Meu “Tutti”, você era mesmo o meu tudo!
        O meu amor por você ainda vive, e permanecerá enquanto em mim houver fôlego de vida. Depois, não sei para onde ele irá, mas sei que sobreviverá de alguma forma... Sobreviverá!
Despeço-me como sempre fizemos: Tchau, tchau, tchau! Beijo, beijo, beijo. Te amo, te amo, te amo!


Não é uma homenagem ou algo semelhante, apenas uma foto escrita da dor que hora sinto.  (Pedra)
André Fernandes e Pedra Mateus
Enviado por André Fernandes e Pedra Mateus em 19/01/2018
Reeditado em 19/01/2018
Código do texto: T6230173
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