Saudade eterna!... - R. Santana

Itabuna, 03 de julho de 2000.

À Direção, Coordenação, Supervisão, docentes e discentes do IMEAM

Prezados colegas:

Parafraseando o poeta popular, diria que quem parte, parte chorando, quem fica, fica.... bem... quem fica, fica chorando de dor ou de alegria por ter se livrado de uma persona non grata que não irá fazer falta ao grupo, principalmente, não irá fazer falta à comunidade docente e discente dessa escola.
Não iria me aposentar pela prefeitura, agora, teria mais 3 (três) anos pela frente, todavia, pelas mudanças constantes das leis previdenciárias, averbei 3 (três) anos de uma escola de Itajuípe e fui pendurar as minhas chuteiras no cabide do Instituto Nacional da Previdência Social – INSS.
Se a prefeitura dispusesse da figura jurídica do abono de permanência do estado da Bahia em sua relação de trabalho tê-lo-ia solicitado, pois o meu desejo seria ficar mais algum tempo junto com a família do IMEAM. Todavia, nem a vida é eterna, tudo tem o seu tempo e o meu tempo chegou, consola-me ter a consciência do cumprimento do dever.
Levo no baú das recordações mais alegrias do que tristezas dessa escola, mágoa e ódio nenhum. Sempre serei eternamente grato aos gestos e ações solidárias que recebi dos meus colegas nos momentos de dor com a minha filha Ana Paula. Lembrando dela e do seu infortúnio, não poderia deixar de lembrar, por gratidão e justiça, o meu singelo e eterno reconhecimento às preocupações de Alzair, Gracinha, Elza, Nivalda, Inês, Rose Mangabinha, Nildinha e Edulindo, que comungaram comigo no dia a dia dessa nefasta caminhada.
Sei que construir algumas arestas, o meu discurso político, às vezes, é rude entre alguns colegas, uns por dificuldade de empatia; outros, em discordância dos meus princípios políticos. Porém, peço-lhes vênia para lembrá-los que quanto à minha ousada posição ideológica, sempre fui coerente, fiel, mas sem subserviência, fuxico ou alguma conduta desairosa.
Sempre usei de honestidade e lisura com os meus colegas, independente de sua matiz ideológica, porque os governantes são efêmeros, não perenizam, porém, a amizade e a estima são tesouros imperecíveis.
Orgulho-me sobremaneira, encerrar a minha participação nessa escola e ter como diretores uma plêiade de profissionais sensíveis, éticos e compromissados, pautados, somente, na solução dos problemas funcionais dessa instituição, que sem alimentar futricas, intrigas e alardes, vêm conduzindo com sabedoria o IMEAM, deixando para posteridade exemplo de dignidade e trabalho a ser seguido.
Gostaria de deixar uma palavra de carinho para minha amiga Vera Monteiro, que com seu jeito intempestivo e turbulento, transmite uma fortaleza obtusa, mas não passa de uma menina crescida que se desmancha em lágrimas quando por força de sua função tem que exercer autoridade com um colega.
Não quero, aqui, fazer exercício de futurologia: “mor” irá fazer uma falta inestimável aos quadros do IMEAM quando tiver de deixá-lo – sem puxa-saquismo, pois, agora, irei mamar nas tetas do governo federal, de pernas...
Sem presunção, sem afetação, direi aos meus colegas do giz e da saliva que estamos passando por um processo de abrupta mudança e avanços pedagógicos dos especialistas em educação, essas mudanças são irreversíveis enquanto perdurar o modelo político neoliberal, do livre mercado, da competitividade, da produtividade. Se não quisermos ser sucumbidos pelos novos tempos, teremos que nos adequar profissionalmente. Porém, confio na inteligência dos meus pares e na sua capacidade de discernimento e adaptação.
O desequilíbrio é necessário para o crescimento do sujeito, entretanto, é necessário a priori, que sintamos o desejo de mudar, sem ideias preconcebidas e atitudes preconceituosas. Contudo, não devemos abrir mão da luta por melhores condições de trabalho e de salários justos (não sou daqueles que me constranjo ao falar de salário, afinal, saco vazio não se põe em pé), e também, que não enfiemos goela adentro todas baboseiras teóricas daqueles que ficam nos gabinetes conjecturando ideias panaceias para justificarem a probidade dos seus salários em completo desacordo com a realidade.
O professor de Matemática e disciplinas afins, são os únicos que lidam em sua prática diária com os raciocínios lógicos, com as construções hipotéticas, indutivas, dedutivas, por isto, têm potenciais condições intelectuais para contribuir, sobremaneira, nesse processo de mudança pedagógica, onde a preocupação com a aprendizagem do sujeito e sua formação cidadã constituem as vigas mestras da escola moderna, contemporânea.

Plagiando o imortal Euclides da Cunha, em os Sertões, diria, duas linhas:

“O meu eterno agradecimento à família IMEAM.
Que a paz, a concórdia e o trabalho sejam as divisas da bandeira dessa escola”.


Cordialmente,

Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons

Nota Editorial:

Hoje, fuçando o meu arquivo, encontrei esta missiva que fiz quando me aposentei do IMEAM, ao corpo docente e discente. Quê saudade? Eterna saudade!...