Ao Meu Amigo Americano: sobre o fracasso

Olá Meu Amigo

Sabe meu caro, estive pensando estes dias sobre o fracasso. Seu país me parece perdoar menos os que fracassam, vejo como muitos de vocês cuja a música, a educação e o jeito interiorano não conseguem muita coisa na vida.

E mesmo como estas pessoas são desprezadas, como se portassem alguma doença ou destino contagioso.

O fracasso também marca o semblante das pessoas. Tenho a impressão que afugenta os que se consideram com alguma chance de sucesso. As amizades são do mesmo nível de fracasso para pior - como uma doença que afeta o mesmo grupo não sendo necessário maiores prevenções...

Mas concordo com alguns que deixar estas coisas desagradáveis se tornarem autopiedade nos transforma por dentro na figura repugnante que os outros veem por fora. É necessário dignidade até mesmo para xingar, não esqueço isto que me disse certa vez.

O fracasso produz o olhar perdido e a sensação de ser menosprezado a qualquer momento, quando descobrimos que pouco podemos dar a alguém. O terrível segredo de estar na pior e saber que isto não agrada as pessoas.

Pude compreender bem com isto, por que vocês monetizam tanto as coisas. Eu achava ganância, mas percebi que se temos algo a oferecer, devemos cobrar. Afinal, que daria alguma coisa a nós no caso contrário?

Sabemos de tantos artistas que caem no esquecimento. Se tivessem confiado na ilusão de que sua audiência lhe seria fiel ou lhe compreendido intimamente... Você deu algo a eles, algo que eles precisavam, e seriam gratos até o exato momento antes de não ser mais útil.

Te digo meu caro, que este sentimento de fracasso, este de no momento pouco ou nada ter pra dar, que interesse a outras pessoas significa simplesmente que não atende no momento aos seus interesses e necessidades.

Nada tem mágico, místico ou de uma grande missão de vida nisto. Não foi seu amor, sua intimidade, sua personalidade ou mesmo talento que fez com que as pessoas precisassem de você. Antes, foram as necessidades delas, os interesses, as perspectivas, o momento e tantas outras coisas que chamaram você e não outro para atender.

Você entrou por acaso nisto e seria outro caso a necessidade e interesse também fossem outros. Agora você lamenta não fazer mais sucesso, mas tem seu dinheiro e pode poupar. Pode montar um negócio ou tentar emplacar outros sucessos - mas sem ansiedade ou preocupação.

Não sei se entendeu o que eu quis dizer. Não estou dizendo para se acomodar ou se tornar um fracassado. Estou te falando para não pensar tanto sobre gratidão ou ingratidão das pessoas.

Te peço para pensar que no momento em que oferecemos ou vendemos e tal coisa é aceita, isto não significa que exista algo especial em você ou que encontraram certo apego eterno pelo que fez por eles. Se te procuram é por que lhe atende um necessidade ou lhes dá algum prazer. No dia que não proporcionar mais isto não terá quem lhe estenda mais as mãos.

Se buscou por sua obra e feitos tal amor, te digo que busque em você mesmo. Não acredite mais no amor das pessoas do que na importância do amor que possa ter por você mesmo.

Sei que por seu talento, ainda vai superar esta fase de pouca inspiração, mas não acredite tanto que admiração que terão novamente por você será mesma por você. Você não é sua obra, uma música, um livro, ainda que estas coisas sejam eternamente lembradas e honradas - nunca substituirão tua alma e teu coração.

Já notou que quem ama verdadeiramente teu coração e tua alma nem liga se você faz sucesso ou se é só um anônimo? Mas mesmo assim, para de se desprezar e de esperar que alguém tenha por você um amor que só você pode ter por si mesmo.

Abraços!

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 07/05/2018
Reeditado em 07/05/2018
Código do texto: T6329286
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