Conheci uma mulher, a carta é igual a qualquer outra

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Conheci uma mulher, a carta é igual a qualquer outra - Henrique de Albuquerque

Era tudo tão lúdico quando não a tinha, era tudo tão puro e sincero, tentei por diversas vezes me aproximar e falhei, queria por ali ter parado, mas infelizmente fui golpeado pelo destino e tive que me render ao abraço incondicional do amor mais uma vez, mais uma triste vez!

— Quantas vezes tenho que me iludir...

Essa seria apenas mais uma carta de pensamento amoroso por uma pessoa que perdi, e seria até mesmo fácil pensar que eu acreditaria ser a pessoa minh'alma gêmea, queria que ela fosse igual a mim, mas não era. Lá vou me guiando novamente pelo pensamento de tempo, século, lugar -não é esse o problema, não é esse o sistema! Não consigo encontrar meu par!

Crio e contento em mim uma vontade íntima de encontrar alguém tão parecido comigo; pensamento absurdo para alguns, impossível para a maioria -eu não me apaixonaria por mim mesmo!

Lá vou trançando as correntes que me julgam, sou apunhalado e sinto meu próprio sangue escorrer pelos ralos, sinto meu conteúdo arrastado, amarrado por cavalos e mais uma vez cometo um erro!

Chegam as baratas, nos esgotos, nas vielas das ruas, de mim bebem e de mim riem: mais uma vez ele cometeu um erro! Paro e penso, olho e escuto, mas no fim é tudo do contra.

Cometo os mesmos erros e novamente o tempo, meu nêmesis, vem e me machuca -quão torpe é a nostalgia e quão imunda é a ansiedade?

E meus olhos novamente enchem-se de lágrimas:

— Achei outro!

Veja, esse outro que me refiro não passa de um objeto sentimental, é uma lembrança do passado, um passado congelado.

Sabe quando você tem todos os planos dispostos, está prestes a fazer uma coisa em um sistema único e de repente tem que abandonar tudo? O melhor é quando você não lembra que iria fazer isso até algum tempo depois, você abre essa caixa de pandora e encontra uma espécie de foto sentimental daquele momento, tudo parou no tempo, as emoções do passado entram em choque com o presente e após isso é pura incondicionalidade do ser; como pode um presente à uma criança desconhecida expressar tanto amor, tanta pureza...

E é por isso ser tão vil o encontro! Depois de todos os argumentos pífios e de todas as reclamações falhas, de todos os constrangimentos, de todos os pensamentos angustiantes, me deparo com este artefato colorido e diabólico, ele me faz querer fazer tudo diferente quando me acometi à jura de nunca mais pensar nessa mulher! Não há como ser tudo diferente, nem há como ser tudo igual, pois acabou!

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Henrique de Albuquerque Mello
Enviado por Henrique de Albuquerque Mello em 11/05/2018
Reeditado em 17/10/2018
Código do texto: T6333131
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