Carta sobre o fracasso do Plano Real

CARTA SOBRE O FRACASSO DO PLANO REAL

Miguel Carqueija

A essa altura dos acontecimentos já é lícito perguntar; afinal por que fracassou o Plano Real? Apesar das esperanças que trouxe, e que ajudaram a ganhar uma eleição, como se explica esse fracasso? Poderíamos nos perder em complicadas teorias e elocubrações, mas no meu entender a principal resposta é espantosamente simples, ou simplesmente espantosa: o Plano Real fracassou por ser um plano econômico. Explicando melhor: temos um plano DO governo, mas não um plano DE governo, pois governar é cuidar da educação, saúde, agricultura, estradas, salários, empregos, tecnologia etc. Planos econômicos são quase esotéricos e ignoram as necessidades do povo. Não podem por isso dar certo, já que o país é concreto e não abstrato.

Secundariamente, tendo em vista os acontecimentos dos últimos dois anos, pode-se deduzir uma outra explicação: que o Plano Real não foi feito para dar certo, pois desde o início visou fins eleitorais e dividendos políticos. E assim sem grande esforço, chegamos aos motivos que levaram o plano a tão retumbante fracasso.

NOTA: esta carta foi enviada à Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro) em março de 1997 e comenta o fracasso do Plano Real (o “plano diabólico” na definição do Dr. Enéas Carneiro). Não guardo lembrança se ela foi publicada, mas seu tema continua atual, pois todos os desgovernos de 1995 para cá mantiveram o monstro.