* PAI *

Oi Pai, sabe... hoje também sou pai e a vida me ensinou que ser pai significa em algum momento errar, e como erramos, não é? No momento que sou pai e olho para relação “pai e filho” percebo sua necessidade de alguma forma tentar compensar a falha do passado e neste momento, eu como filho tenho dois caminhos: o primeiro caminho é olhar com olhos de amor e aceitar sua entrega mesmo que tardia, e o segundo caminho é o mais fácil, a rejeição, repelir seu carinho outrora postergado, e neste momento devo ver as coisas não como gostaria que fossem, mas como realmente elas são, pois preciso aprimorar minha percepção neste instante, e sinto-me sufocado por meus famigerados conflitos.

São dúvidas, questões, mas será que carinho tem prazo de validade? será que o amor deixa de ser amor com o passar do tempo? Por que não posso olhar para este momento sem mexer no passado?

Sim, Pai, os pais erram, mas eu como filho e pai que sou agora, escolho não errar como filho, farei aquilo que espero que um dia meu filho possa fazer por mim, e aceitou seu carinho, aceitou este momento fugaz, quem sabe o perdão, quem sabe o amor, não posso fugir do fato que Te amo, Pai. Ao experimentar este momento de amor começo a questionar a vida... e se pudéssemos nascer já velhos talvez erraríamos menos, seríamos melhores, mas a natureza nos ensina que é natural não nascer pronto, e talvez nós nunca estejamos prontos, pois não existe fim, apenas movimento e transformação. A única constante na vida é experimentar, experimentar e experimentar.

Permita-me uma breve analogia sobre a relação Pai e Filho: imagine que o universo deu a você a responsabilidade por criar uma flor, e você a plantou e a protegeu, seu desejo era ver o desabrochar deste flor, mas ela precisava de água, e no momento que você foi buscar esta água... ela desabrochou, você esperou uma vida inteira por este momento e não foi possível completar este milagre da natureza, um sentimento de fracasso e perda consome sua alma, e neste momento você precisa se perdoar por sua ausência, sua falha, mas que falha? se você fez por amor? a flor teria o direito de cobrar sua presença neste momento singular? Talvez “o segredo” esteja não naquilo que você fez, mas principalmente naquilo que deixou de fazer. A flor deveria aprender que sua ausência foi por amor e você talvez devesse agradecer esta flor por fazer parte da sua vida, por tanto que aprendeu ao buscar aquela água naquele instante. E se pudesse simplificar a complexidade da vida, arriscaria dizer que a Vida é aquele pequeno instante entre pegar a água e o desabrochar da flor.

Ramon Marques Maia
Enviado por Ramon Marques Maia em 02/07/2018
Reeditado em 02/07/2018
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