Vale-me minha terra natal. Como estás?

Soube com pesar do fracasso de teus governantes, da tua lamúria de sempre e das tuas velhas chagas que andam tão abertas. Pobre meninos de sempre esses que teimam em morrer pela mão do Estado. Todos pretos, pobres: és sempre uma grande tragédia!

Sempre leio os jornais que aqui em Portugal me chegam e vejo que continuam a te matar aos poucos. Oh, minha terra mui amada. Sofro por ti! Pelo menos soube que existe uma tal de "Márcia" que agiliza transplante de cataratas para os mais pobres, é isso mesmo?

Como anda a Baia de Guanabara, teus matos e tuas praias? Sinto saudade da maresia do Leblon e do frenesi da Lapa. Mas falaram-me que o reduto da boêmia está por acabar devido à crise! Que tragédia!

Mando lembranças ao prefeito atual. Dizem que é bispo de uma igreja famosa e que governa só para alguns eleitos e membros de sua estirpe. É isso mesmo? Que tragédia!

E o caso daquela moça ativista  dos direitos humanos qual o nome dela mesmo? Marielle! Que horror aquele assassinato! Já prenderam os criminosos? Que tragédia!

Enfim, vou indo pois o transporte aqui chegou e escrevo essas linhas rapidamente ao celular.

Mande lembranças ao nosso povo. E a eles dou um modesto conselho: quando tudo parecer piorar mande-lhes olhar ao Cristo. Ele é a nossa única esperança de redenção, não é mesmo?


Com eternas saudades do filho sempre teu,



Gustavo.


Lisboa: 19/07/2018. 
gbbenfica
Enviado por gbbenfica em 19/07/2018
Reeditado em 20/07/2018
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