Ar de mudar

Nostalgia. Esta deve ser a primeira marca de algo que deixa saudades. Inquieto tempo, dilema na alma e imagens na mente. És recordado tanto os bons trechos vividos em certo momento, de forma tão cativante, que até os problemas recorrentes do tempo são graça. E é com este precoce pensamento que parto à transcrever como se começa um novo tempo. Uma tênue correnteza que passa entre os dedos dos pés e o corpo estirado na praia agora trocados por um preguiçoso balançar na rede em uma terra menos marítima e mais cidade. A fronteira agora é outra, antes o mar, agora meus metros quadrados. A minha pessoa também passa a ser outra, menos indígena e mais moça. Mas a minha liberdade é mais ilha do que quando na ilha.

Sinto falta daquele horror de água. Ainda posso escrever cartas adoidada, por em garrafas simples ou decoradas, com ou sem destinatário, mas não tem mais mar. Agora as tais se pilham, e em pouco tempo se transformam em pilhas de lixo. Ocupam espaço, tanto como antes, não mudaram nada, o que mudou foi o meu espaço. Se eu quiser me adequar, ao em vês do mar, há a janela. Não faço por medo, pois janela estão suspensa e lançar garrafa por elas é um tipo de violência. Entretanto, tudo isso é aprendizado e adaptação. Em decorrência a mudança, entendi o valor "inutensílio" da poesia.

Um salve a Leminski. ♥

Atenciosamente, Clara Nuvens.

Clara Nuvens
Enviado por Clara Nuvens em 11/09/2018
Código do texto: T6445748
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