Sobre Morrer

Nada mais é do que mais um texto clichê sobre uma perda daquelas que acontece todos os dias com muitas pessoas, todas as pessoas, mas que por mais que aconteça tem impacto igual.

Esse mês eu perdi meu pai e por um momento estive sufocado em minhas próprias palavras, uma confusão de informações, uma tempestade de sentimentos, uma ficha que insiste em não cair, em meio a tantos outros problemas quanto os que ocorrem quando o caminhar finalmente chega ao fim.

Sem saber como reagir gritamos por socorro e clamamos por silêncio, choramos por conforto e anseamos por respostas que, infelizmente, em nada darão. A dor. Uma lembrança do quanto estamos vivos e do quanto precisamos viver, de como precisamos viver. A Luz do nosso caminho anseando para que enxerguemos aquilo que cegamos em meio as pueiridades da existência.

E cegos em nossas futilidades, nem sempre fúteis, levamos um tapa da existência e nos magoamos, nos julgamos, culpamos e lamentamos esquecendo que não importa o que aconteça sempre há um amanhã.

E o amanhã não perdoa, não existe pausa, ninguém espera o barco andar e mesmo que decidamos largar o mundo e esquecer o mundo, o amanhã nos lembra que as coisas precisam tomar um curso, que como un braço de rio que se desvia em meio a uma barreira, precisamos retornar ao nosso curso normal, mesmo que este não seja o original. E assim, o amanhã nos empurra, nos incomoda, nos machuca, mas nos cura, não da dor, mas da incapacidade temporária de existir.

A cegueira que nos blinda diariamente se solta por poucos instantes e nos lembra do valor das coisas, dos momentos que a qualquer momento, qualquer momento mesmo, pode ter fim. Ah se nosso orgulho entendesse o quanto nossas diariedades são vis, talvez abrissemos os olhos para outras coisas importantes.

Mas no meio da dor o amanhã nos lembra, nos cobra: seguir em frente. Mesmo que doa, mesmo que não queira, é seguir em frente. E seguindo em frente o universo vai nos mostrando pequenas alegrias, pequenas novidades, mudanças, emoções para disfarçar nossos buraquinhos de dor, para tornar a existência menos onerosa, para o caminho fluir de alguma forma, para tentar entregar um pouco mais de paz ao coração cansado de doer.

E pouco a pouco a escuridão alivia, o coração apazigua, nossos circulos equilibram e o amor se expande em fé, com fé em Jesus.

O Rombo é inestimável, a saudade inexplicável, a dor insuportável, o medo imensurável, mas é preciso seguir em frente. É a única opção.

Deus nos Salve.

Ib Souza
Enviado por Ib Souza em 30/10/2018
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