A emoção de receber uma carta/poema Lin Yutang

“Cartas de amor são escritas não para dar notícias, não para contar nada, mas para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel”.

Rubem Alves

Você já pensou na emoção de receber uma carta escrita à mão?

Há quem diga que as cartas de amor escritas à mão estão fora de moda mas, e daí?

Num mundo cada vez mais digital e instantâneo, as pessoas acabam perdendo a sensibilidade natural de expressar suas emoções, sentimentos e pensamentos através de uma carta feito nos moldes de antigamente. A sensação é agradável, pois as cartas carregam em si um pouco de quem as escreveu. Pensar na frase certa, no verbo e na expressão de cada linha é um exercício e tanto. Decifrar as ideias, os sentimentos e desejos a serem desvendados nas entrelinhas, a expectativa aguardando as próximas missivas é uma emoção diferente.

Sempre gostei de escrever e receber cartas e versos que falam de amor. Através delas conheci pessoas, viajei por outros mundos, recebi postais, poesias, poemas, frases de conteúdos belíssimos. Comentávamos sobre os assuntos mais variados e inquietantes da época.

Meu amigo - amor, Edson, no ano de 1.983, sendo um grande admirador dos contos e das filosofias chinesas, me presenteou com este belo poema numa de suas cartas. Apresento-o a vocês com uma pequena explicação.

* Conta Lin Yutang no livro “A Importância de Viver”, publicado em julho de 1.937, que a mulher de um grande pintor chinês estava quase perdendo o marido, que já pensava em tomar para si uma amante. A mulher do pintor então compôs o seguinte poema e sua poesia fez o marido mudar de ideia.

Vamos ao poema:

“Há, entre nós ambos,

Demasiada emoção.

Tal é o motivo

Do que tem havido!

Toma um bocado de argila,

Molha-a, amolga-a,

E faz uma imagem minha

E uma imagem tua.

Toma-as então, rompe-as

E adiciona-lhes um pouco de água

Transforma-as de novo

em uma imagem tua

e uma imagem minha.

E então haverá na minha argila alguma coisa tua

e na tua argila alguma coisa minha.

E jamais coisa nenhuma nos há de separar.

Vivos, dormiremos na mesma cama

e, mortos, na mesma sepultura.”

Lin Yutang -

Nascimento: 10/10/1895, China

Morte: 26/03/1976, Taiwan.

* Foi um escritor chinês cujo trabalho original e traduções de textos clássicos chineses se tornaram muito populares no Ocidente.

Jandira Ferreira Jandamel
Enviado por Jandira Ferreira Jandamel em 06/11/2018
Reeditado em 20/09/2021
Código do texto: T6495524
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