I - O círculo dos desejos

Imagine você, talvez uma pessoa bem-sucedida, ou ainda em processo de crescimento financeiro e pessoal. Quais são suas metas? Pense um pouco sobre elas... Houve um momento em que elas foram estabelecidas? Quais foram os critérios de formulação? Pensou sobre seus prazos? De fato, hoje você representa aquilo que pensou e programou para si? Você planejou toda sua vida em função do hoje? Está satisfeito? Qual é seu o próximo passo? E o próximo?

Mas, o mais importante do que estabelecer metas é ter consciência do passo em si. Fazendo uma analogia mais prática, é preciso sentir a textura, a temperatura do solo para cada passo dado, sentir as pequenas pedras e areias entre os dedos. Em outras palavras, é preciso ser e viver cada passo, cada movimento. A partida e a chegada têm pouco valor, de fato, eles não existem – podemos prever algumas situações, mas essas previsões não representam a realidade. Por isso, reafirmo: Na trajetória que me coloco basta estar totalmente presente.

Nesse período de prática pude perceber que todo meu sofrimento sempre esteve ligado intimamente aos desejos que crio, crio em função do conforto, em função do status quo, em função do ego. Quando lanço mão de uma meta mesmo que ela seja para o meu bem-estar ou para um bem maior estou atestando um longo período de profundo sofrimento. Ansiedade, irritabilidade, preocupação, entre outros aspectos negativos, farão parte, com toda a certeza dos meus planos. Talvez, inconscientemente não consiga perceber essas duras circunstâncias. Quando, assim, me der conta, estarei atolado e coberto até a cabeça com essa lama de lamentações e dor. Por outro lado, você pode dizer: alcancei meus objetivos e esses sofrimentos fazem parte da minha proposta. Sim, claro, são consequências e, se você está disposto a sofrer na intenção de desejar algo você fará, deveras.

O que quero dizer, e é muito difícil, é que somos a Natureza Buda Manifesta, todos somos capazes de enxergar, reconhecer e esquecer o sofrimento. Mas, para isso, acredito que é preciso fazer pequenas escolhas. Mas, mesmo essas pequenas escolhas requerem um grande esforço. Como foi dito, a busca pelo desejo é incessante. Nunca estamos satisfeitos, sempre queremos mais. Criamos metas, e por elas sofremos, e por vezes as alcançamos, ora não, e sofremos de novo. Criamos um ambiente que nos faz sofrer e estamos presos e é muito difícil se libertar desse estado de sonho. Cria-se um grande círculo vicioso onde quanto mais se deseja, mais desejos sua mente irá criar. Desse modo, nesse estado, a vista turva, os ouvidos param de ouvir, todo o seu ser torna-se escravo dessa busca incessante.

Quando nos sentamos em Zen, compreendemos esse círculo e buscamos viver apenas o presente, que é, na verdade, tudo e vazio. Não temos nada além ou aquém. É nosso infinito e finito. Tudo cabe nesse eterno espaço pequeno de tempo. Quando nos sentamos, estamos totalmente ali, corpo, não corpo, mente, não mente, desejo e não desejo. Tudo está presente e ausente ao mesmo tempo, do cheio para o vazio e vice-versa.

Em suma, meu caro leitor, somos eternos reféns do que não temos, mas somos muito mais livres daquilo que minha mente entende que não temos. Que todos os seres sejam beneficiados! Gasshô!