The Day We Felt The Distance

Meu confidente diário, 28 de junho de 2015.

Já faz um mês desde que ele partiu sem ouvir meu ‘até breve’ ou qualquer semelhança que eu pudesse emitir da minha boca já seca. Na verdade, não conseguia sequer dizer qualquer palavra plausível a não ser estar visível a dor que tinha se instalado em mim com aquele término, tendo de agir como se estivesse tudo nos conformes quando na realidade tudo virou uma desordem, um caos total. Não tive forças suficientes nem para um ‘até’ e apenas ele disse para mim, porque palavras já não faziam sentido algum para mim na altura do campeonato. Estava muda por fora, mas gritando de angústia por dentro.

Pensava que se você fingisse um papel onde nada te atingisse, mantivesse uma calma que não era sua, ter uma postura onde todos veriam que estava tão bem quanto uma pessoa comum pronta para o seu próximo tema para seu manuscrito de sua vida, teria uma chance de não ter de abrir a jaula que impôs em seu interior e aprisionar o fracasso total que estava. Bom, eu tentei. Não preciso dizer que deu certo, não é? Foi um fiasco se fazer de algo que não era ainda mais na situação atual na qual me encontrava. Para onde fosse, meu coração doía e trazia de volta aquela sensação de perda e vazio onde ninguém mais poderia preencher além dele, era frustrante tanto pra minha mente quanto pro meu eu e não deveria deixar aquilo acontecer pelo meu bem mesmo. Mas Deus sabe o quanto tentei várias – e de modo inútil – fugir disso e correr bem longe, ser um pouco alegre por mais que durasse por um dia ou até algumas horas, era o bastante. Mas não o suficiente.

Já pensei muito que foi uma droga estar presa, mas ainda que reclamasse... Foram longos os meus dias com aquela bendita chama que tinha acendido de um dia havia uma esperança de voltar e eu vê-lo, mesmo sendo apenas amigos. Me contentaria com aquilo, para mim era algo que poderia amenizaria o buraco que tinha aqui. Apenas a presença dele era um calmante para meus nervos aflorados por toda a extensão do meu corpo cansado de tanto andar por aí sem destino, apenas queria ter a mente voando tão alto quanto um pássaro poderia voar pelos céus tanto azulados quanto cinzentos, ou até mesmo escurecidos.

Só queria voar longe daquele lugar, estar em paz.

- X -

Meu confidente diário, 28 de julho de 2015.

Nota-se que escrevo de modo periódico conforme a data de aniversário de solidão vem e bate a vontade de desabafar com meu querido diário. E sim, fazem dois meses sem ele, sem ouvir sua voz, sem ver o seu lindo rosto do qual adorava apreciar com minha visão, sem sentir borboletas no estômago como uma menina tola apaixonada que vê seu amado vindo em sua direção para trocar algumas palavras com você. Me chamem de ridícula pensadora apaixonada e fracassada porque não estou ligando muito, até assumo porque são apenas verdades. Só não signifique que tudo isso seja falso, porque jamais o sofrimento que passei e passo são algo fingido ou não me daria o trabalho de dizer tudo isso sem o menor motivo aparente.

Ah, como dói sentir aquilo que não queremos para nós, mas é obrigado a passar.

Confesso que não consegui ainda me acostumar por inteiro a sua partida e o espaço em braço deixado aqui sem sequer ter algo sentimental ao menos da minha parte, não digo o dele por motivos das quais conheço tão bem: ele era bem fechado e detestava a tensão que se formava quando um de nós – geralmente eu na maior parte do tempo – dizia alguma coisa relacionada ao que acontecia. Quando chego a pensar sobre isso me pergunto se fui realmente algo bom para ele, se ao menos consegui dar o mínimo de apoio que ele precisava, por mais que por grandes vezes não queria solicitar o seu por achar que estava colocando carga e drama demais enquanto ele já tinha os seus problemas, queria ser aquilo que minha mente dizia que era daquele jeito que ele esperava que fosse.

Minha mania horrível de guardar as coisas pra mim foi um dos pontos quando nos conhecíamos melhor quando estava passando por uma das piores fases da minha vida, não o queria perto de mim porque ele deveria estar junto da namorada na época e dar a devida atenção, mas ele ficou tão irritado... “Para de me afastar de você!”. Nunca vou esquecer, ficamos sem falar por algumas horas com aquele silêncio insuportável. Acredito no fundo do meu ser, queria sua atenção ao mesmo tempo como não queria que ele deixasse de ter um relacionamento, parar o que estava fazendo com sua namorada por minha causa. Nunca quis ser um peso deprimente em sua vida, mas não estava em condições de levantar sozinha porque precisava de alguém para me abraçar e dizer que eu podia sobreviver a esse pesadelo.

Como agora.

- X -

Meu confidente diário, 15 de agosto de 2015.

Eu sei, muito cedo para ficar escrevendo sendo que só era para escrever no dia 28. Mas não consegui aguentar porque preciso urgentemente desabafar e para hoje. Sei também que deve estar se perguntando: “mas quem diabos é ele?” ou “o que aconteceu para ele ter ido embora?”

Lhes digo agora. Seu nome é... Não, está muito cedo ainda pra dizer e apenas irei revelar no dia que ele voltar. Sim, mantenho as esperanças como uma boa idiota e dependente de um amor que havia curado o mal da maldição de uma ilusão passada, mas acredito ao menos que sua amizade é a que mais importa para mim tanto quanto seu bem-estar. Acima de tudo, a nossa amizade é como uma preciosa joia onde ambos não podem dizer do contrário, ela foi/é única e pretendo guardar comigo com unhas e dentes nem que seja a última coisa que faça antes de dar meu suspiro final, ela é tudo para mim e meu vínculo que tenho com meu amado. Não posso permitir que isso se desfaça ou se destrua tão facilmente, não iria suportar se acontecesse... Estaria tão quebrada quanto os cacos da joia quebrada, refletindo as minhas lágrimas sofridas de tanta luta, sacrifícios e do quanto me doei para que a nossa amizade fosse a mais agradável possível. Essa joia reflete a beleza do que um sentiu para o outro, dos momentos tanto tristes como felizes fizeram parte de nós dois.

Ah, as lágrimas caindo outra vez.

Era tão agradável quando ele me tentava fazer rir, obtendo sucesso quase sempre. Impossível estar triste por muito tempo quando ele estava ao meu lado, logo já gargalhava com alguma bobeira que este fazia e era grata por aquele gesto tão bonito e significativo, acho que levarei para sempre essas memórias. Mesmo que nos desentendíamos ou melhor, como ele dizia, ‘apenas umas discussõezinhas’ pelo fato de sermos totalmente opostos um do outro em algumas questões como se preocupar em excesso, ser um grude, ter um afeto a mais e o romance continuou, mas a amizade não acompanhou. Sempre pensei que ele se cansaria de mim e poderia arrumar alguém bem melhor do que uma pessoa tão diferente de visual quanto de pensamentos e sentimentos – intensos, diga-se de passagem –, não reclamaria disso. Até o apoiaria. E vocês dirão agora: “você tá louca, mulher?”

Não. Eu nasci louca.

Querer o bem de quem tanto amo é crime?

Dizem que penso demais nos outros e esqueço de mim, do que sinto e tudo o mais. Pois lhes digo que é a verdade. Mas se estivessem no meu lugar, sentindo o que sinto dentro de mim agora, não iriam fazer o mesmo pela pessoa que ama caso ela resolvesse ser feliz com outra já que não deram certo? Posso chorar o infinito, mas seria mais infeliz se não o visse ao menos alegre ou satisfeito, o apoiando em suas decisões.

“O que ele viu em você, afinal?”

“Você não parece tão adequada para ser o par ideal dele.”

E vos digo que podem estar certos. Na verdade, é um enigma para mim o que ele viu em mim que não enxerguei. Mas quando ele diz... É como se tudo fizesse sentido.

“- Eu não preciso de ninguém, porque já tenho você.”

Ah... Como o amo. Suas doces palavras soavam como uma melodia tão suave nos meus ouvidos que meu coração pulsava a cada segundo. Me sentia abraçada com sua frase, como se dissesse que não importava minhas várias questões de se poderia achar alguém melhor, pois apenas queria estar comigo porque era a mim que seu coração pertencia.

Assim como o meu pertencia a ele.

- X -

Meu confidente diário, 28 de agosto de 2015.

Três meses. Exatos, longos, tortuosos meses. Havia decidido que era inútil manter-se de pé quando mal conseguia levantar para andar até o banheiro, quanto mais ser feliz com qualquer um que não preenchia o buraco que possuía em meu corpo. Era a hora de partir, mas não sabia exatamente quando e para onde iria. Só queria ir para um lugar onde não pudesse ver, ouvir ou lembrar seu rosto ou ativar memórias suas em minha cabeça perturbada ao relembrar de seu cheiro, seu abraço, seus lábios sob os meus... Era demais para mim. Não era justo comigo, ver em meus sonhos e apenas tocá-lo em minha imaginação onde nossos corpos eram um só, nossos cheiros se misturavam assim como seus toques eram a razão dos meus arrepios mais intensos.

Tão injusto, Deus!

É isso. Precisava ir o quanto antes ou iria mesmo enlouquecer aqui nesse lugar e não demorariam muito para chamar o hospício, diria graças ao senhor e agradecia por ter me tirado de lá com uma carta e um presente. Vontade não me faltou de quebrar esse apartamento, juro! De gritar alto e me descabelar por conta do meu desespero, pela falta de controle de tantos sentimentos e acontecimentos jogados na minha cabeça sem algum suporte suficiente para me erguer novamente.

“Será que vou voltar a ser eu de novo?”

“Por que meu coração está tão machucado assim?”

“Onde será que ele poderia estar agora?”

“Ele está bem?”

“Por quê...?”

Tantas perguntas ao mesmo tempo, nada de respostas. Deprimente. Ainda mais para uma pessoa com depressão detectada há poucos meses e com bastante bagagem emocional para levar como eu. Como sempre dizia: “ninguém gosta de gente triste perto”. Já estava conformada que pessoas iguais a mim não tinha muitas chances na vida de serem felizes no amor, estávamos fadadas a eterna solidão no pacote da vida. E tinha de aceitar isso.

Mesmo que doesse ao saber que poderia nunca mais ter o amor de novo.

Algumas malas estavam quase feitas, só precisaria pensar onde iria viver dali em diante com nova identidade e personalidade da qual teria de criar, poderia se chamar Elizabeth ou Naomi, pintar os cabelos ou cortá-los também parecia uma boa opção, tanto faz. Tudo se resumiu a isso, ‘tanto faz’ ou ‘tanto fez’, não fazia mais diferença já que meu eu interior resolveu me largar sozinha com a bagunça.

E apenas me perguntava se ele pensava em mim...

- X -

Meu confidente diário, 31 de dezembro de 2015, 01:10 am.

Mais um dia comum, com algumas risadas adicionais e com 100% de insônia. Sério, depois que receitaram remédio para dormir ficou claro que não durmo mais depois da meia noite. O pior de tudo é que só de madrugada que bate a fome, a depressão, tristeza, tudo! Não sei mais o que pode acontecer porque a não ser que for algo que me deixe sem palavras, me recuso a ter perturbação quando for deitar. Ah, falar em perturbação, já vieram bater na porta. Quem seria a uma hora dessas? Já volto para dizer quem foi, me aguarde.

- X -

Meu confidente diário e amigo nas horas vagas, 31 de agosto de 2015, 06:35 am.

- Olha quem conseguiu aparecer.

Deus me ajude, pois nunca poderia acreditar que aquilo aconteceria diante de mim. E sim, fiquei sem palavras. Aliás, faltou todo o vocabulário do universo para descrever tamanha emoção ao vê-lo na minha frente, do lado fora do meu apartamento e na minha porta. Não sabia nem reagir direito, nem distinguir se era uma ou duas da manhã! A emoção foi a que tomou conta primeiro fazendo despejar lágrimas dos meus olhos antes de pular em cima do homem parado ali e abraçá-lo como se fosse a última coisa que dava pra fazer no momento, apertá-lo contra mim para saber se era real ou minha mente criando uma forte ilusão.

- Sinceramente? Não sei se é óbvio, mas o motivo principal para eu ter voltado foi por você.

Aquilo mexeu tanto comigo que de repente meu coração começou a disparar como se eu tivesse correndo uma maratona. Um alívio apossou da minha alma e podia perceber meu eu voltando de uma longa estrada que caminhou, como se voltasse para casa. Não poderia dizer que os minutos que estivemos juntos foram os mais memoráveis da minha vida! Era como se meu eu – agora reformado de algumas coisas, outras não – retomasse as coordenadas de agora em diante, a cada minuto da conversa esquecia do fato de teríamos de conversar em algum momento sobre nós, sobre mim e meus segredos da alma, mas não as diria naquela hora. Uma cena bonita demais para se estragar com sentimentos tão pesados e fardos de tristeza, solidão e depressão constante.

Cantamos Love Shake como dois bobocas que somos. Não posso dizer que havia uma certa mudança no homem em que via na minha frente, porque era bem notável. Mas não significava que não tinha gostado, pelo contrário, havia adorado o fato de conseguir estar tão próxima e perto de sua aura estimulante e divertida, me fazia ser ‘eu’.

Não dormimos juntos se é o que já estavam pensando. Estava tarde e o cansaço mais o sono era evidente em si.

- Amanhã nós dormimos juntos.

Não consegui não tirar graça disso, recebendo um ‘boba’ e uma risada em seguida não resistindo em rir também do que tinha acabado de acontecer. Há quanto tempo não ria tão verdadeiramente assim? Dias? Semanas? Meses? Não sei mais, perdi essa conta faz um tempo. Logo o acompanhei até a porta e nos despedimos ali com a promessa de que nos veríamos novamente naquele dia para recuperar o tempo perdido da nossa amizade preciosa.

- Até amanhã então. – disse olhando para mim e antes que eu pudesse concluir o meu até amanhã, dizendo antes para que dormisse bem e que o amava, saíram tais palavras. – E eu amo você! Se cuida e durma bem quando for!

Nunca uma frase tão simples e até formal fosse fazer uma garota chorar e sorrir de emoção ao mesmo tempo que observava o amado ir embora, não sendo definitivo daquela vez.

O amor é engraçado. Mas somos nós que complicamos com nossa mente embaralhada de dúvidas, incertezas e indecisões misturadas com as questões do coração que bombardeia a existência do seu amar, o motivo de manter o amor dentro de si e dar para os outros sem que espere que seja retribuído, por mais que mereça na maioria das vezes de igual para igual... Não é uma ciência exata, uma matemática perfeita ou algo que possa ser controlado, simplesmente acontece.

E por mais que o apego nos faça sofrer, percebo hoje que talvez meu coração não fosse tão tolo assim e soubesse o que estava fazendo por mais sensível fosse ao lutar com meu cérebro já tão calibrado e inundado de traumas, de tantas lembranças ruins sem eliminar as boas como também sabia no fundo o amor a quem doei, voltaria para o lugar onde seria acolhido. Mesmo com todos os altos e baixos dentro dele. Lembram-se daquela chama? É ela quem manteve vivo e pulsando o coração.

Não me arrependo de ter esperado. Só é dolorido demais, mas sei que um dia tudo volta a se encaixar como as peças de quebra cabeça são. A minha joia preciosa ainda guardo com todas as forças que ainda nutro em mim, carrego nos momentos mais difíceis dessa jornada tão trabalhada e bastante controversa. Sei a dificuldade que me é imposta e várias outras que terei de enfrentar no futuro, mas se apenas tiver o seu sentimento verdadeiro... Então nada mais importa, aguentarei até o último respirar dos meus pulmões sem antes vê-lo perto de mim e saber que realmente pude todo esse tempo contar não só com sua fidelidade quanto o seu amor que sentiu por mim.

Você é o outono clássico da minha estação, um vento forte soprando meus cabelos bagunçados a um toque sutil de sua pele branca sob a minha mão. Lhe agradecerei todos os dias por ter mostrado que poderia viver e saber que todo esse tempo, o amor tão forte quanto um temporal nasceria em mim. Obrigada por tentar me ensinar e me amar mesmo com tantos defeitos… Amo você.

I love you like a bright rain,

Someone who my breath wants to hold,

Like a dream, like now, like this.

Layla Mitchell
Enviado por Layla Mitchell em 19/11/2018
Reeditado em 19/11/2018
Código do texto: T6506053
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