A praça

_Ô maeeee eu cheguei primeiro e o Joao ultrapassou!

_não mãe foi ele...

Nossa que saco, não suporto essa pracinha barulhenta. Disse o filho resmungão enquanto a mãe sorria olhando da janela. Ele se despede dizendo estar mais uma vez atrasado para o trabalho e a mãe ainda na janela o abençoa, mas ele não ouviu e já estava longe.

Enquanto la fora, além das mães sentadas nos bancos á espera dos filhos que brincam sem pressa alguma. Outras conversam trocando receitas enquanto aposentados jogam baralho para passar o tempo e avós tricotam apesar de outono a próxima estação segundo os meteorologistas promete um rigoroso inverno. Choveu a noite toda, mas o sol deu o ar de sua graça e sabiás e bem te vis agradecem cantando. O dia estava lindo, nem parecia ter chovido tanto, as plantas bem mais verdinhas e o chão lavado.

Certo dia aquele jovem teve que se sentar em um dos bancos da praça para organizar seus papeis, parece ter esquecido um documento e se tivesse teria que voltar em casa, apesar de ter olhado no carro e nada do documento. Praguejando ter esquecido na mesa da sala.

As crianças na maior algazarra brincando e um vizinho curioso ao v elo por ali o cumprimentou;

_Oi David tudo bem? Quanto tempo. Você ta um homem feito hem!

_Sim Sr, graças a Deus por isso. E seu olhar para a meninada não escondia que não gostava de crianças.

_E parece que foi ontem, ainda me lembro do dia em que sua mãe comprou esta casa, haviam outros imóveis disponíveis na época, mas fez questão desse pela praça.

Claro você estava na barriga e assim que nasceu ela ficava tanto com você aqui que o carrinho de bebê parecia fazer parte da decoração da pracinha. Sorriram...

Mas você deve lembrar quando tinha o tamanho desses meninos neh?

_na verdade eu nem lembrava, mas sim, eu brincava bastante sim.

_Era sua segunda casa rapaz! Cabisbaixo ficou por segundos e viajou no tempo se via correndo e brincando de pique esconde ou de jogar bola, dos arranhões e os gritos chamando sua mãe que vinha como um relâmpago ver o que estava acontecendo. O gentil Sr. continuou a conversa embora o jovem estivesse de saco cheio de papo de velho e ainda ia trabalhar, mas o ancião continuou...

_Porque não traz sua mãe pra tomar um sol diário vai fazer bem pra ela?

_Como assim, quando eu saio ela deve viver nessa pracinha porque não tira os olhos daqui quando eu saio esta na janela e quando eu volto á janela esta aberta que t de tanto olhar acaba cochilando e deixando aberta. Ainda bem que é um bairro tranquilo e nunca tivemos assalto.

_Sua mãe não vem nenhum dia, eu sempre converso com ela de tarde da janela mesmo e me disse que já não tem firmeza nas pernas e caminha com muita dificuldade. Mas ama a praça e o barulho dela. Tudo faz lembrar sua infância. Notou se olhos lacrimejantes e rapidamente se levantou se despedindo desviando olhares e ligando o carro soando o alarme.

Dirigindo e pensando na frase; “sua mãe não vem aqui faz tempo”. E no trabalho ficou disperso viajando no tempo, na verdade doido pra ir pra casa mais cedo. Fazia um bom tempo que não se dedicava a mãe com trabalho, trabalho e mais trabalho.

Quando saia de manha sempre resmungando e atrasado e quando voltava a mãe estava dormindo. Fins de semana dedicação total aos amigos e a namorada nem havia percebido que sua mãe estava com uma idade avançada. Fez as contas e sua mãe o teve já em uma fase de risco pela idade e com sacrifício realizou o sonho de ser mãe. Realmente era muito amado apesar de ter perdido o pai a mãe se fez presente e cuidou sozinha nem tivera tempo de cuidar dela mesma. Se casar novamente nunca esteve em seus planos e o tempo passou tão rápido e já não tinha idade pra isso.

Ô mãeeeeee cheguei !Disse o jovem eufórico por um abraço e apesar da hora a cortina da janela balançava se com o vento e ele fechou a janela em seguida foi para o quarto acordar a mãe como se ainda fosse aquele menino querendo contar novidades diárias ao chegar da escola. Acordou sua mamãe com um leve beijo no rosto. Leve até demais, estava mórbida e fria. Sem sinal de vida e em meio ao desespero do filho abraçando, apertado e sacudindo exigindo que acordasse, mas era tarde demais. Devia estar desfalecida há horas, mas estava serena...

A pobre no sentido pobre de carinho, a pobre senhora morreu enquanto dormia a sonhar com o filho ainda pequeno que se perdeu no tempo.

Um velório luxuoso e silencioso para a alta sociedade mostrava claramente o que ele era e o que havia triplicado sua renda durante uma vida inteira. Seus pais optaram em investir tudo que tinham na melhor casa da rua, a casa da praça visando o futuro do único e amado filho.

E a casa da praça atualmente avaliada em dois milhões de reais, mas nada disso poderia lhe trazer sua mamãe de volta.

Mayala Morenna

Mayala Morenna
Enviado por Mayala Morenna em 13/12/2018
Reeditado em 13/12/2018
Código do texto: T6525955
Classificação de conteúdo: seguro