IV - A Metamorfose da Borboleta

Por mais que eu tente refletir sobre a existência de um Deus onipresente criador da terra e de todo o universo, minha mente viciada e criada numa cultura cristã carrega-me para um campo muito abstrato e isso me deixa muito confuso e em busca de significados. Racionalizando a ideia de Deus posso refletir e comparar esse conceito. O que ou quem é Deus? O Zen Budismo, como qualquer outra vertente budista, não considera a hipótese de Deus. O Zen diz que existe, de fato, uma Natureza Búdica e Manifesta que podemos encontrar aqui mesmo, no ambiente que estamos, por exemplo, ao olhar os pássaros voando, as águas de uma correnteza de rio, a metamorfose de uma borboleta, etc., etc., etc.

As coisas são como elas são. É tão simples e sútil que não conseguimos perceber. As coisas acontecem e, a natureza, de um modo geral, contribui para o sucesso de uma ação não planejada e não consciente. É tão bonito isso! O que quero dizer é que a natureza basta por ela mesma, e quando digo natureza, incluem-se também nós seres humanos. O ciclo da vida é tão notório e perfeito dentro de um universo esplendoroso. Você já parou para pensar no som de uma árvore caindo na floresta? Será, que realmente, há o som? Não estamos lá para ouvir, então não haveria a necessidade do som. Mas sim, outros tantos seres perceberiam de maneira diferente a queda da árvore e se beneficiariam com isso. Perceba as múltiplas possibilidades de compreensão dessa árvore que finda. Quem disse para nós que uma árvore é somente lenha e serve apenas para finitas e previsíveis funcionalidades. Podemos ir muito além. É possível perceber todo um ciclo universal do nascimento à morte e sua utilização para a manutenção de vários outros ciclos de vida. Muitos seres foram e serão beneficiados durante todo esse ciclo que não finda.

Quando falamos em Deus, nossa mente nos leva numa viagem através dos tempos e dos homens, vamos do velho ao novo testamento e nos encontramos agindo em todos os cenários. Alguns agem atribuindo a Deus o temor e o controle, outros agem atribuído a Deus o amor e a fraternidade. Por vezes pensamos: sou uma boa pessoa? E meus atos, são coerentes com a proposta sagrada? Em outras palavras, temos medo das consequências e, às vezes, atribuímos às consequências à Deus. Deus não irá castigá-lo, muito menos notá-lo quando agir de maneira adequada ou não. Como diria o historiador Leandro Karnal, você é sócio majoritário da sua existência. Seus atos geram o carma da tua existência no sansara. O carma, por sua vez, irá lembra-lo sempre das ações que praticou durante sua existência, ele sempre estará lá. Se escrevo com essa caneta, sua tinta está a caminho do esgotamento, seu plástico está se deteriorando com o meu contato e com o tempo, partículas microscópicas da minha epiderme estão sendo perdidas também. Perceba a ação do carma no campo quântico, não estamos livres de modo algum das consequências criadas por nós.

Falamos muito de carma, e não é difícil entendê-lo. Em suma, toda a ação gera uma reação. Trata-se de uma lei universal e vê-se sentido nessa máxima. Não há determinação superior, nem menos destino, como o conhecemos. Há apenas a ação do ser humano, como a própria criação de Deus. Gasshô!