Carta a não remetente

Você se repete numa frequência diária em meus sonhos, como que p’ra sacanear toda e qualquer tentativa de tirar sua imagem da cabeça. É surreal, tem vez. Me deixa incrédula o enredo de cada narrativa. Me põe a questionar se o mesmo poderia estar acontecendo com você, e nem precisaria ser só quando vai dormir. Eu tenho uma voz que não fala, já que os meus olhos são o mais transparente que consigo ser. Eu ando decorando textos criados e recriados insistentemente segundo após segundo como roteiros de novela, ensaiando e passando script sob os batimentos do meu peito. Me apronto para uma cena de recusa, onde cada telefonema esporádico seu funciona como um abridor de feridas no momento em que me ponho a engolir de vez o choro. Seria menos dramático não me ligar, ao menos eu não teria o que atender; ao menos eu não chamaria a mim mesma para um duelo interno e provocativo. Sabe-se que a tua ausência desliga parte de alguns de meus neurônios em funcionamento, e isso explicaria resumidamente minha performance de combatente a psique.