Domingo é dia de solitude

Domingo é dia de solitude, e nem se apresse em deduzir que isso é algo negativo. A ponta da língua toca três vezes o céu da boca quando você fala, e o dicionário ainda completa; solitude é o estado de privacidade de uma pessoa, não significando, propriamente, estado de solidão. Para mim, solitude é quando buscamos estar em paz com nós mesmo e não existe dia melhor da semana do que o domingo. Eis o dia escolhido pela paz interior para ser palco das mais internas e importantes reflexões. Domingo é dia de lavar roupa suja e repassar os percalços da semana. Domingo é quando você mata os seus demônios e os mata à sós, apenas consigo mesmo.

Domingo é dia de jogar sal na ferida e deixar arder. Deixar a ressaca te roubar os pensamentos, o estômago revirar pelas más escolhas e deixar a cabeça pesar por ter feito ou dito algo ruim. Domingo é dia de assumir que vêm sendo uma pessoa não tão boa e que como não segue orgulhosa do que anda se tornando, precisa mudar. Domingo é dia de avaliar as possíveis mudanças – as necessárias e as desesperadas, aquelas que são mais que necessárias. Domingo é o dia que o almoço vira café, que aquele lanche da tarde dá espaço a pizza da noite, e você se pega as dez bebendo café e refletindo porque é tão difícil ser você mesmo com as pessoas que você tanto gosta e que gostam de você. Domingo é dia de refletir e assumir que perfeição não existe e nada está sobre controle.

É no sábado que você perde o controle, no domingo você só limpa a bagunça. Lembre-se disso.

Seu corpo instintivamente te cansa a semana inteira para que domingo você não consiga nem se quer encarar-se no espelho e buscar qualquer traço de evolução ou discussão consigo próprio. Aposto que sua mente te blinda, te despertando vontades de assistir filmes antigos ou ouvir algum álbum no volume exato que te impeça até de pensar. Provavelmente alguém vai te chamar para beber, para ver se ambos afogam juntos a eminente sensação de que o balanço precisa ser contabilizado, porque as coisas estão bagunçadas. Não adianta parar na porta do quarto com medo de encarar a bagunça; nada se arruma sozinho. Domingo aparece toda semana, e cobra dedicação e solitude. E carinho. Muito carinho e paciência consigo próprio.. para que você possa refletir, descobrir e evoluir.

Mariana Ravelli
Enviado por Mariana Ravelli em 19/04/2019
Código do texto: T6627302
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