Não é saudade

Primeiramente devo me justificar: não é saudade. Ocorreu-me recordar os tempos em que vivíamos como irmãos, dominando nosso acervo de sofrimentos pueris e zombaria tosca. Éramos o mestre e o aluno, os juízes e o réu de um fim de mundo maldito.

O papel de sentimental sempre foi meu, enquanto de sua parte acuso a inexperiência. Queiram os céus perdoar-me a insensibilidade grosseira de hoje, mas é sabido que os corações só quebram uma vez, apartando os ingênuos dos bem-sucedidos.

Não é saudade, somos agora outras pessoas, soltas, desprendidas num mausoléu de chances e desejos. Tenho receio em dizer que não mais te reconheço, porém folgo em reconhecer a ordem natural da jornada. Qual o preço a ser pago pela clareza, meu Deus!

Aprecio, todavia, os serviços prestados com a lealdade de um interesse e rezo pelos nossos caminhos. A ausência que hoje habita em mim consegue ser mais bonita que a luz de sua presença, mas não consegue apagar a marca de saudade que deixaste. Não saudade. É recordação. Passado.

Não é saudade.

Carolina Lima
Enviado por Carolina Lima em 20/05/2019
Código do texto: T6652143
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