A Capa de Zangbeto
Foi num campo de chão batido que vi pela primeira vez a dança impressionante , forte nos tambores e marcante nas cores. Movimentos que embriagavam os olhos e pinçavam a mente , numa ameaça de que há mais mistérios do que realidade nesta vida maluca que levamos.
A figura vinha e rodava e não mostrava o conteúdo. Era tudo o que se podia ver: a imagem externa , gravetos e penduricalhos e flores secas e sei lá mais o quê de barateza usual... Toda sua energia era para disfarçar o sofrimento.
Em determinado momento comparei aquele zanzar com a vida de alguém muito próximo...
As cicatrizes e as feridas abertas, encobertas pela mágica veste, eram totalmente desconhecidas do público que insistia em mais uma volta pelos cantos do palco.
É , o público, esse algoz...
Dentro da estranha mortalha de feitiços havia quem amargava pesadelos , somente seus por não dividir o penar. Muitos dias de angústia em segundos de morte a toda hora!
E, como reparar os danos que causei àquele ser que saltita, entretendo os presentes à festa?
Procuro no egoísmo a que me torno, num esforço para diminuí-lo a cada investida, a cada batalha , a resposta para esse traje de promessas à minha frente!
Devo dançar também?