TREM QUE PASSA

Desculpe-me se estou sendo indiscreto

nesse mar de incertezas desonestas.

Não escondo de ti o esplendoroso céu

que nos aguarda se me deres uma certeza.

Não esconda de mim a tua face,

pois sou aquele que na noite te espreita.

Dá-me o doce alucinante desse mel

que dos teus lábios derretem feito cera.

Está carta escondo de mim mesmo,

pois não quero reviver esse martírio.

Ao ouvir teu nome te desejo,

não com ares do pecado malfazejo.

Meu desejo se transforma em despejo,

quando sinto um julgo desigual.

Bem que sei que não tenho o que sobra

e o que falta não sobre em mim a transbordar.

Nos vagões desse trem tenho remorso,

pois escrevo para alguém que nunca vem.

Da janela vejo a paisagem que distorce

e o trem que passa sem ninguém.