CARTA DE RAÏSSA AO PAI

                                   Recife, 31 de maio de 2006.


Hoje encontro-me pensativa, imaginando o que você gostaria de ter como  presente. Algo que mereça ser guardado num livro, numa caixa de recordações..., que mereça ser visto de vez em quando.
É certo que, por muitos anos, foi assim que conseguimos nos comunicar.  Você viajando, trabalhando, mas sempre nos mandando recados, cartas e mensagens construtivas. Tenho-as guardadas também.  E foi com muita emoção, dias atrás, levando meus livros para o meu novo "lar", que as li, que as revivi.  Foi muito importante para todas nós - eu, Véu, Ninha e Mother - termos estabelecido, naturalmente, essa forma documental, de expressar o que sentimos e o que estávamos vivendo em resposta a você, father.  Até, mesmo com você dentro de casa, ficávamos deixando bilhetinhos nos espelhos e quadro de avisos, lembra?
Valia tudo, ou melhor: ainda vale tudo. Valerá sempre. Lembro agora do nosso querido Padre Alfredo, que me dizia:  "Abrace o seu pai, filha!"...  Falava do contato físico.  E nos abraçamos.  Mas, no fundo, eu ficava sem jeito, acostumada a beijá-lo só através de palavras.  Cresci assim.  Tantas vezes, vendo-o deitado na sala, tive vontade de ficar grudada por alguns minutinhos . . .  Sei lá !... Ficava sem jeito...
Hoje encontro-me oferecendo uma carta, muito mais consciente do que as outras, creio, por estar além destas linhas.
Ofereço, pai, meu amor, minha amizade, meu carinho...
No entanto, não finalizo com "um beijo".
Inicio um ritual, só nosso.  Sempre que quisermos dizer algo, que continuemos, ao nosso modo, escrevendo. Mas inicio também um novo tipo de abraço: mais forte, mais quente, mais mais.
Quero senti-lo sempre presente.
Sua filha, Raïssa.
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 08/05/2020
Reeditado em 08/05/2020
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