Carta para a minha filha aos 15 anos.

Olá, minha filha! Eu nunca imaginei que o seu aniversário de 15 anos seria assim tão inusitado. Certo que você não queria uma festa, mas nem nos meus maiores devaneios eu imaginaria que estaríamos isoladas em decorrência de uma pandemia mundial. Claro que eu sabia que com você tudo seria especial. Mas um aniversário digno de um romance do Garcia Márquez ou do Saramago, nem nos meus sonhos!

Essa virada de tempo nos pegou de jeito. A nós, humanidade. Veio para abalar as estruturas de tudo o que acreditávamos eterno até então. Há quem diga ser uma bela de uma rasteira do universo, querendo nos ensinar uma lição. Porque o mundo está cansado de tanta ebulição, de tanto barulho, de tanta destruição, ganância e ausência de empatia. Algo assim era de se esperar. Mas, poxa! Tinha que ser justamente no mês do seu aniversário?!

Pois é! Tinha que ser! E continua. E a gente vive com medo de um inimigo invisível, num arremedo de autocuidado para enganar os transtornos de ansiedade, a síndrome do pânico e as crises depressivas que afloram nesses tempos terríveis.

Ô, minha filha, eu juro que eu não queria que fosse assim o seu dia! Ate tinha planejado uma linda viagem. Você sabe! Tudo bem que eu andava meio borocochô, desanimada e cheia de reticências. Mas nas minhas conversas com o transcendente eu nunca pedi tamanha intervenção! Eu só queria um pouco mais de tempo para me organizar por dentro; para tirar todo o lixo acumulado ao longo dos anos; para mudar algumas certezas que me consumiam. E o tempo veio! Mas, que pegadinha foi essa? Não era assim que eu desejava, oxe!

Uma coisa eu posso dizer que aprendi com tudo isso: que devemos ter cuidado com o que pedir, pois o pedido pode ser atendido.

maria das letras e llivros
Enviado por maria das letras e llivros em 08/05/2020
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