Lembranças

Aurora (acho que é assim que devo te chamar agora, em outras épocas seria "meu bem", ou ainda, "meu amor"),

Espero que esteja tudo bem contigo, há tanto que não nos falamos!

Como você já deve saber, finalmente publiquei o romance que passei anos escrevendo; espero que você tenha recebido o exemplar que lhe enviei.

Escrevo-te porque nos últimos meses tenho sido tomada por uma nostalgia como nunca antes. E pensei muito sobre nós. Lembrei-me de uma sensação que senti quando te dei um último abraço no aeroporto, antes de vir para Londres; sensação essa que me consumia e que mesmo me esforçando para entendê-la não consegui, nem quando parti nem nos anos posteriores.

Porém, hoje, numa manhã nublada, como num súbito, voltei no tempo

e lembrei de tudo que vivemos e de como fomos felizes, de como nos amamos em intensidade. Durante dois anos fomos arrebatadas por um sentimento calmo, delicado, mas avassalador. Dois anos em que eu senti, todos os dias, que eu era a única em seu mundo e que você era a única no meu.

Até que aqueles dias chegaram, os dias em que essa sensação de que só havíamos nós duas no mundo foi desaparecendo aos poucos como névoa. Eu até hoje acho que nós não queríamos ver o desgaste que se instalou. Lembra daquele dia em que preparamos um café da manhã, e que a gente comeu tudo, sem conversar, e que no fim com uma tristeza ou estranheza a gente se olhou e percebeu que o café era mais importante? Em outros tempos, teríamos esquecido o café para admirar uma a outra, mas ali não, a paixão tinha acabado, e era quase como uma dor admitir isso.

Esse forte desejo de não admitir que aquele "sonho" tinha acabado, nos fez estragar esse amor e admiração que sentíamos uma pela outra, você não acha? As brigas e a indiferença daqueles últimos dias nos separou por anos, hoje isso me entristece.

Quanto ao sentimento que a mim esteve oculto todos esses anos, o sentimento da partida no aeroporto... Era porque eu ainda a amava, não mais como mulher, mas amava. Naqueles dias era difícil pra mim entender tudo isso, que eu não precisava cortá-la da minha vida. Eu até hoje não sei o que poderíamos ser se estivesse no Brasil, talvez amigas?

Enfim, eu poderia te enviar um email, mas você sabe o quanto amo escrever a punho. Lembrar de tudo de bom e de ruim que vivemos, e da admiração que senti por ti, me avivou hoje.

Com amor, admiração e saudade, Helena!

p.s. Espero que tenha percebido que aceitei suas antigas sugestões na escrita do livro.

p.s. Se vier a Londres algum dia, venha me visitar.

.................................................X..........................................

Carta fictícia, escrita em 28/06/2020 às 23:51.

Caso alguém deseje escrever uma resposta fictícia, fique a vontade.

Maria Estella.

Met Pereira
Enviado por Met Pereira em 28/06/2020
Código do texto: T6990865
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.