Privilégio

Sou privilegiada

Vim ao mundo e fui recebida e concebida por duas mães.

Podem acreditar!

Uma delas partiu cedo.

Deixou-me grande herança.

Aprendi com ela a amar.

Deixou-me caráter, simplicidade, berço.

Deu-me infinitas lições de aprendizagem do amor.

A outra mãe ainda está por aqui.

É dela que lembro agora.

Quero algumas coisas dizer-lhe.

Preciso dizer-lhe da saudade dos momentos vividos.

Em todos os dias da minha vida senti sua presença.

Aceitando meu jeito de ser, um pouco na contramão, sempre.

Algumas vezes contestando, mas sempre no final recebia um beijo e um abraço carinhoso e um tão querido: Deus te guarde!

Embalou-me quando criança.

Protegeu-me, deu colo.

Ensinou-me a brincar.

Perdeu um pouco da sua infância, sei, para dedicar-se a mim.

Era sua feiosa boneca viva! (sorrio enquanto escrevo)

Pular corda, fazer flores com massinha de farinha colorida e avencas.

Os primeiros pontos na costura (sou péssima), sei que tentou!

A presença certa em todas as vitórias, formaturas.

A cumplicidade dos primeiros amores.

O nascimento da minha filha, sua neta.

Os momentos de dor.

Você estava lá, mãezinha querida.

Seu orgulho ao referir-se a minha pessoa.

Como toda mãe, sempre exagera um pouco.

A vida nos colocou longe.

Apenas espaço físico!

Nada significa, quando o amor é grande.

Veja só!

Sabemos uma da outra todos os dias.

Você, com dificuldade, aprendeu a manusear o computador.

Para estarmos juntas.

E estamos

Todos os dias!

Obrigada mãezinha!

Por todo o afeto, cuidado e amor.

Quero que saiba que foram recebidos e estão guardados.

É meu tesouro.

O maior deles.

Nosso grande e infinito amor.

(Para Vera Gomes Bastos)