Irrazoável

Tenho me lembrado cada vez mais de você. E, à medida que faço isso, mais me questiono porque não posso te reencontrar. Meus sentimentos ficam divididos, sabe? Eu reluto, cada vez mais, contra a minha natureza impulsiva de ir ao teu encontro. Mas há amarras sociais que me prendem e me fixam em uma posição tão difícil que eu me sinto prestes a sucumbir a cada ano que passa.

Eu não diria uma dor, mas uma mágoa. O ressentimento da cisão abrupta que eu nunca consegui superar. Você não me deu oportunidade de me expressar nem sequer de optar. Você me cerceou de tudo quando eu já estava acostumada demais com a tua presença, com a tua voz, com a tua constância. E isso me fez sentir muita raiva no começo.

Os anos se passaram e seu semblante foi ficando desbotado na minha memória, mas o sentimento, lá no fundo, permanece quase inalterado. Mas as convenções sociais nos fizeram rumar por caminhos os mais distantes possíveis. Mesmo que eu tente, vez ou outra, localizar teus passos, nossas vidas permanecem separadas e, ao mesmo tempo, ligadas por um fio inquestionável. E essa ínfima probabilidade me enlouquece, porque meus olhos continuam te procurando por todos os lugres em que um remoto encontro seja possível. E a ausência vira frustração, tristeza e raiva. Uma mistura tão inquestionável quanto o sentimento que mantenho por você.

Stéfani Bezerra
Enviado por Stéfani Bezerra em 28/03/2021
Código do texto: T7218233
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