Patience

É como um assobio fim de tarde, estranhamente sutil e inesperado. Chega sem avisos e até mesmo nome, e desse instante em diante me causa reboliços e me põe a correr. A correr com medo ou pra correr e estar junto.

Algo como, "Você está bem?" ou varar madrugadas trocando mensagens algo do ultimo século - não sei, algo me diz que seriamos bons em trocar cartas.

Algo como esperar o inverno para percorrer essa cidade grande, chove em nós e em toda parte. "Pra onde vamos agora?" Não entende que eu ficaria aqui apenas- olhando teus olhos sem saber resposta alguma?

Agora que o mundo está acabando e tudo desmorona.

Agora que o vírus se instalou tão friamente em nós.

Agora que não esqueço por mais de um dia seu nome.

Agora que relembro a música do Guns me parece muito melhor fugir para minhas fantasias nada sóbrias. Me abstenho da realidade, fujo pra longe, aqui onde só existem lembranças e visões -

Agora que sei que nada mais será como antes, que estou morrendo um pouco todo dia.

Agora que preciso cuidar da casa, pensar nos filhos, mas só queria mesmo jogar uma partida de um jogo qualquer. Te conhecer em alguma locadora lá pelos anos 2057 quando na minha cabeça teremos voltado.

Gritar "Help" mesmo quando você não souber meu nome. Escrever uma crônica para satisfazer qualquer pensamento meu.

Agora que o mundo está acabando sento aqui e escrevo novamente, repleta de ausências e perguntas.

Agora que é quase abril e mais um ano se passou - "Ainda estou aí?"

"I need you - just a little patience" Não tem mais paciência que dê jeito na minha cabeça, eu confundo tudo sempre e fico esperando uma mensagem que diga "Venha!".

É como mudar tudo de lugar e nada agradar, é o incômodo na hora de dormir, "Será que a vida é isso?", é a vida passando como músicos passando o som antes do show - não tem volta.

É o cansaço só de pensar em tentar algo diferente do que estou fazendo hoje.

Baby, não vou esconder nada e você sabe - eu estou indo.

É algo com se dizer humano e vulnerável - finito - um estado curto de enlouquecer/perde-se dentro de si/arrancar os cabelos e perguntar "Falta muito pra chegar?"

Baby, não há nada de extraordinário em nós, por isso mesmo sinto algo que chamamos saudade.

Por isso as permanências. Por isso os retornos.

Em dias assim,

patience

Victória Araújo
Enviado por Victória Araújo em 31/03/2021
Reeditado em 31/03/2021
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