30 ANOS

A caçulinha dos cachinhos dourados cresceu tão depressa que já me ultrapassou. Nasceu por último mas nunca ficou pra trás, enfrentando bravamente a irmã e o irmão, seus primeiros rivais. Aos 3 anos, quando subiu correndo as escadas e bateu a porta com força, mostrou de uma vez por todas ser boa de briga.

Corajosa, sempre disposta a enfrentar o novo. Experimentava. Se não gostava, partia pra outra ideia. Escolhia o que comer, o que vestir, o que fazer. Independente, tomava iniciativas e propunha tarefas. E as outras crianças aceitavam e acompanhavam seus projetos, indicando a liderança que lhe era natural. Esses verbos estão no passado, porque ela é assim desde sempre. Ainda adolescente, ensinou à mãe tantas coisas, como o significado de "relacionamento aberto", a importância do feminismo, as razões do socialismo, o jeito de brincar com gatinhos, o processo de se deixar o arroz mais soltinho, argumentando em prosa e verso suas convicções. A mãe? Adorava aprender com ela - e adora ainda.

Soube usar seus dons naturais na escolha da profissão. Agora, ensina com diploma e reconhecimento científico.

Ah, minha querida, saudades daqueles anos em que a gente brincava de "filha única", privilégio raro naquela casa sempre agitada. Obrigada por ter me escolhido pra ser sua mãe mas lembre-se que quem escolheu seus cachinhos dourados fui eu.