ARACAJU DE MURILO MELLINS

Oi, Murilo. Tudo bem? Você é simpático, cativante e mais outros adjetivos que não vou colocar só para não embrilhantinar o meu texto. O texto, hoje, dizem os dominadores da língua, deve estar mais para o gumex (gel).

O objetivo destas linhas é dizer que vi, vivi, olhei, namorei, chorei ao fazer uma leitura brevíssima do seu livro. Farei ainda outras leituras para, então, noivar e, em seguida, casar com a Aracaju romântica.

Seu livro realiza milagres. Revivi a infância e a adolescência. Procurei feito louca encontrar meu pai escorregando nas areias do Morro do Bomfim. Naquele exato dia ele foi detido e dormiu na prisão do mercado Thales Ferraz porque um sujeito “olhos-e-ouvidos-do-rei” escutou meu pai criticar o Governo Leandro Maciel. Foi a conta. Mellins, esta é uma recordação duplamente triste: pela prisão e pelo cerceamento à liberdade de expressão.

Quem será que teve a idéia de retirar aquele lindíssimo relógio da Praça Fausto Cardoso? Quem entendeu de substituir aqueles postes de iluminação com luminárias francesas? Vou perguntar a Luís Antônio Barreto, a José Anderson Nascimento, a Vladimir Carvalho. Não. Desisto. Não quero mais perguntar. De nada vai servir.

Sabia, Mellins, que eu cheguei a passear de bonde quando tinha só um ano de idade?

Naqueles bailes que você mostrou, eu não dancei. Comecei a freqüentar os clubes de Aracaju na segunda metade da década de 60.

Está engraçada demais aquela fotografia de um baile de Carnaval. A moça no meio do salão está prestes a desmaiar num porre de lança-perfume. Como você conseguiu aquele retrato de Tô-te-ajeitando? Uma beleza paradoxal.

Seu livro, Murilo, é para a gente sonhar, amar, reviver, matar saudades e “vir de saudades morrendo”. É gostoso igual a Aracaju. Aracaju você ama e ponto final. Aliás, todos amam Aracaju.

Aracaju romântica que vi e vivi não é para crítico analisar, meter o dedo, dar pitaco. Nada disso. É carta de amor e carta de amor é coisa íntima. Só os amantes podem ler. Caso contrário, trata-se de invasão de privacidade. Seu livro é pura cumplicidade, coita d’amor, soneto lírico como os de Camões e os de Vinícius de Morais.

Murilo, será que no computador do Céu está gravado e salvo (ou pelo menos na lixeira) o que cada um de nós viu e viveu? Será, Murilo? Bem, por via das dúvidas e da falta de fé, ainda bem que você guardou tão bem guardadas tantas maravilhas em seu livro porta-jóias.

Aracaju, março de 2007