coração

“…cheguei há pouco do interior de mim mesmo e postei-me frente a mim olhando-me com espanto mas, ao mesmo tempo, com serenidade… é que sentia-me estranho, um pouco diferente do que habitualmente me costumava sentir… olhar para dentro de mim não é difícil, é algo que já faço há imenso tempo, há milénios que olho e me volto a olhar, registando sempre todas e as mais pequeninas divergências… desta vez, voltei a fazer o mesmo apenas porque, de quando em vez o faço… parei e, como já disse, mirei-me, olhei-me por todos os lados, para todos os cantos e tudo estava bem, sem denotar algo de anormal, algo que me dissesse que havia mudado… foi então que, a determinado momento (mais um dos muitos momentos que temos na vida), olhei o meu coração… havia qualquer coisa que não batia certo… não, não era o seu batimento normal, correcto, cadente, habitualmente sereno, não… era algo que ele tinha a mais… algo que não estava lá antes… um pequeno nada que lentamente se avolumava quanto mais eu espreitava para o seu interior… busquei todos os dados armazenados na minha memória (tanta acumulada e longa história…) e o que lá havia não estava ainda guardado na mesma… era algo novo e, por estranho que pareça, gostoso… sorri e o abri ainda mais um pouco… falei então com ele… indaguei… perguntei ao interior de mim o que estava a mais dentro dele… a resposta veio num repente, nua e crua, simples e nada pungente: era tudo o que eu queria, afinal não estava doente nem sofria… lá dentro, agachado com um sorriso, estava o amor, leve, doce, preciso mas ao mesmo tempo imenso porque sentido intenso… algo que não sentira ainda duma forma tão suave, tão linda… olhei-o mais uma vez, sorri-lhe com um beijo e abracei-o com doçura e muito desejo… saboreio agora o sentir forte de um amor feito todo ele de ternura, de saudade também, de um pouco de loucura mas, sem dúvida e acima de tudo, de verdade pura…”

Joaquim Nogueira