Carta para Maria Paula

Lavras, 09 de novembro de 2007


Maria Paula


          Considerando que todo escritor tenha uma Macondo em sua  vida, a minha é Arantina, mas eu a chamo de Morro Alto e 
é lá que vivem os personagens de meus livros, escritos mas não publicados. A foto dela está em meu texto, Uma casa na frente do Rio, Um rio na frente da Casa. Se você já o leu, vou pedir para reler porque quando o colei pela primeira vez, esqueci de por a conclusão.Este título eu me inspirei em uma obra de Mia Couto, e não escondo isso. Se chama Um rio chamado tempo, uma Casa chamada Vida e é um livro maravilhoso. No fundo, no fundo, tudo o que a gente escreve é fragmento da própria história. Mesmo quando não foi, poderia ter sido ou gostaríamos que fosse. Estou escrevendo minhas memórias para não deixar perder aquilo que vivi, ou pensei que vivi, e que fizeram de mim o que sou hoje. 

     Você tem elogiado meus textos desde o primeiro dia em que postei no Recanto. Isso é muito gratificante, principalmente porque tenho pelo que você escreve o maior respeito e admiração. Todos os dias, eu dou uma passadinha por aqui e quando não vejo, assim de bobeira, um texto seu, vou procurar. Logo terei lido todos. É um motivo de reflexão, não só em relação aos seus textos, como  ao de outros autores que já selecionei como os meus preferidos: por que ainda não foram descobertos? Fico imaginando você escrevendo para um de nossos jornais mineiros todas as semanas e eu dizendo: é minha amiga, vejam como escreve bem! Eu penso que não nos dão muitas oportunidades. Eles, os donos da mídia. Há uma riqueza muito grande escondida dentro de nossos baús eletrônicos esperando para serem descobertos e se transformarem em matéria impressa em livro ou jornal. Eu, na verdade, nunca quis ser uma escritora profissional. Gosto de ser livre para escrever, sem ter obrigação com horários e prazos, mas no fundinho, tem vez que penso: puxa vida, estou esperdiçada.Isso acontece quando vejo certas pessoas serem aplaudidas como escritores e tentando ler o que escrevem, espremo, espremo e não sai nada. Como vê, não sou nada modesta. Aprendi a reconhecer o meu valor, mas não me julgo melhor do que sou. Na verdade, não passo de uma escritora municipal, com alguma coisa que poderia ser estendida ao nível estadual. O Recanto . porém está nos tornando internacionais, não? Nossos amigos portugueses estão por aqui para nossa alegria. 
E falando do fundo do coração, eu gosto muito mais de ler do que de escrever. Eu gosto muito de descobrir nos outros, aquilo que admiro, e tenho tido muita sorte aqui, porque tenho conseguido achar verdadeiras pérolas, aquelas que a gente diz: puxa gostaria de ter escrito isso. E os seus escritos sempre são de deixar a gente babando de inveja. Li um seu um dia desses que nem comentei. Estou guardando para fazer uma crônica sobre ele, quando for o momento, ou seja, quando a inspiração chegar, que não sou de muito esforço. O do beleléu.Porque passo o dia respondendo a mim mesma e perguntando aos outros: Onde está minha chave? Onde estão os meus óculos? Cadê meu carro? E o telefone? Eles vão sempre para o beleléu e se não fosse São Longuinho eu já teria perdido até a cabeça e não recuperado. 

      
O texto sobre a Mitologia, eu o tinha guardado há muito tempo, já foi até publicado. Sabe por que me lembrei dele? Por causa do nome de certa menininha linda chamada Isis e que também é recantista. Foi ao ver o nome de sua lindinha que me lembrei de meu texto e resolvi publicá-lo aqui. Os casos de plágio têm me assustado e por isso muitas vezes coloco um texto já publicado para me garantir.  Gosto muito de escrever direto e acho uma trabalheira escrever um texto mais de uma vez. Não sou de muita repetição.

 

       Beijos na Alexia e na Isis e na outra lindinha que não conheço. Acho que já escrevi demais por hoje, agora quero ler.
Estou cansada, preciso dormir mais cedo, mas tenho dificuldade. Fico zanzando pela noite, entro na net, abro um livro, vou até a cozinha, mas por hoje acho que chega.

             Com todo o meu carinho

                          Merô