Parabéns pelo seu dia, mãe!

É mãe! Mais um ano que se passa e que você não está perto de mim... Mais um ano sem seu carinho, sem seu sorriso, sua risada, seus olhos... mais um ano inteirinho sem que você me cubra durante a noite; ao invés disso sou eu a cobrir minha filha.

Os dias passam um após o outro como deveria ser, mas você nem está aqui para ver ou vivê-los.

Hoje é seu aniversário e por mais que eu tente evitar, fico triste e sinto sua falta. Parece injusto que os pássaros continuem voando e cantando, que as pessoas sigam com suas vidas, que pessoas se apaixonem e se casem, que sorriam, que passeiem ou que celebrem a vida enquanto essa dor me consome. Mas esse é apenas o curso da vida. "Nascer, crescer, morrer, renascer ainda e progredir sempre. Tal é a lei". Acredito nela, nessa lei, na lei da vida.

Sei que eu disse por muitas vezes que a vida é injusta, fria, vil, má, cruel... mas essa não é a verdade (sempre dizemos isso quando estamos tristes ou bravos por algum motivo, nunca quando estamos felizes); a vida é linda e justa e, como tudo, tem seu início, meio e fim. A sua vida cumpriu esse curso e nós precisamos aceitar isso, mas é tão difícil!

Você que deu a volta por cima de tantos revéses, que contornou um avc para continuar criando suas filhas, que passou por cima de deficiências físicas para nos ensinar a viver, que mesmo sem conseguir pronunciar uma só palavra nos educou... uma guerreira, uma heroína! Minha super-heroína! A melhor e a maior de todas.

Sabe, eu tenho uma filha. Ela se chama Fernanda e ela é tão linda! Você seria apaixonada por ela, não tenho a menor dúvida. Vejo tanto de você nela, mãe. Ela é alegre, brincalhona (eu a chamo carinhosamente de Pacotinho e de marmoteira), sorridente como você. Ela é corajosa nem tem medo de médico, de dentista ou de injeção. Ela já espantou bicho-papão do quarto antes que eu pudesse entrar (ela disse que me salvou dele e eu acredito nela) e gosta de assistir filme de terror, como eu, mas ela também ama filme de vampiros como você.

Ela se alegra com tão pouco, mãe!...

Ah! E sobre a sua canequinha do Piu-Piu - não vá sentir ciúme, hein!? - ela disse que você a deixou para ela. E só ela usa aquela caneca. Outro dia ela disse estar com saudade da vovó Rogéria e eu disse que ela não a havia conhecido, mas ela respondeu que já te viu um monte de vezes porque você virou estrelinha e olha pra ela de lá do céu. Acho que ela tem razão.

Ela é geniosa como você, turrona, mas muito doce, meiga, carinhosa, carismática (só faltou herdar seus olhos verdes)... repito: você seria apaixonada por ela. Ou talvez você seja apaixonada por ela de qualquer forma.

Outro dia eu li uma matéria falando que os maias diziam que os beija-flores eram sagrados e que haviam sido criados a partir de uma pedra de jade com a intenção de que servissem para levarem os desejos e pensamentos dos homens de um lado para o outro. Foi impossível não me lembrar de você e de sua incrível paixão por esses pássaros sagrados.

Talvez eu peça a um beija-flor (ou vários) para te visitarem aí no céu. Quem sabe eles não voltem com um beijo seu para mim?!

"[...]Pois você é o melhor dos presentes que Deus me deu.

Mãe eu te amo demais".

P.S: Carta escrita em 2017 na ocasião do 12° aniversário de minha mãe sem que ela estivesse entre nós.