Ao te escrever...

Pouso Alegre, 20 de Novembro de 2021. 18h30.

Mariana,

Ao te escrever eu tento imaginar o som da sua voz em meus ouvidos, o cheiro do seu perfume em meu olfato tudo é maravilhoso quando fala bem perto de mim. É assim que penso ao estarmos perto um do outro. Duas mentes criativas e imaginativas, dando vazão a um turbilhão de pensamentos positivos. Dois empolgados, um com mais amor que o outro. Mas, tudo bem. Você me ama mais. Ponto final. Pode negar o quanto quiser também. Sei dos seus exageros e dos seus romantismos sendo derrubados por seu lado pratico e objetivo que é totalmente sagitariano: exagerado e cheio de afeto. Falei nada com isso. Hahaha! Aguenta as bobeiras. Nisso eu não preciso mudar.

Ainda é pouco tempo. O tempo que cura. Mas as palavras não cessam em serem escritas. Imagine só o quanto eu penso em você durante meus despertares, nos momentos que me recolho. Nos terços e orações! Querida, você me faz crer que sou bom no que faço. Nas acolhidas, nos diálogos que são cada vez mais intensos com os familiares nas visitas e nos ajustes que tenho que fazer para o bem estar dos nossos meninos aqui.

São tempos trabalhosos que vão ajustando meus sonhos com a realidade em que vivo. E isso não é tudo. Aproxima-se o dia em que começarei uma vida além da porteira da Fazenda da Esperança. Já são quase 3 anos em que vivo dentro e como sou grato pelos aprendizados, pelas quedas e recomeços. Eu não sou mais o mesmo. O egoísmo que é o centro do ateísmo, da descrença no mundo; em mim dá lugar ao altruísmo e a empatia. Essa é a resposta que eu tenho para as minhas ações. Deixar cada pessoa livre, inclusive eu mesmo. Livre para expressar o bem.

No ano passado eu mal podia imaginar que te encontraria. E quão revelador foi esse encontro. Quantas máscaras caíram, quantos rompimentos com o passado eu fiz para descobrir dentro de mim minhas potencialidades, meu lado mais humano também. Antes eu achava ser capaz de aprimorar os talentos e, numa espécie de fome sem fim, desvendei a minha própria fronteira. O que eu mentia para mim mesmo: estava tudo bem atribulado. Camadas de problemas sendo sobrepostas a outros maiores e mais difíceis. Te amar foi uma decisão acertada de acolher alguém semelhante a mim e não julgar. O aprendizado de não julgar seus atos, ajudou a olhar para mim com mais carinho, mesmo que fosse difícil ser compassivo, cuidadoso.

Suas frases ecoam e me estremecem todo o meu ser. Todos os dias eu reflito seus incentivos e seus encorajamentos. Sua voz contém uma sinceridade e, disso sou grato. Nesse ponto você soube ser mais que a Mariana sorridente e acolhedora que conheci. Você virou meu amor, a minha querida. E, infelizmente, eu caí. Peço perdão, sou arrependido do que fiz. Naquele momento não tinha nenhum autocontrole. Menti para mim mesmo também. É sempre a pior mentira. Posso ter muitas forças, mas meus monstros estavam cheios de fome. Eu não acolhi a tal "sombra" que é simplesmente a minha própria projeção, da luz que ilumina a mim. Hoje eu posso falar disso sem medo de errar: o amor cura. O tempo é mais uma expressão deste que sempre vos falo: o Amor de Deus.

Ao te escrever eu deixo ir embora tudo que está aprisionado. Você que gosta do meu jeito de escrever deve saber que eu não parei para analisar vírgulas e pontos finais. Vou escrevendo num súbito para que não seja somente meu intelecto, mas a alma a falar com a sua. Te escrever é diferente de escrever para outra pessoa. É um infinito particular. Você aceita o que se analisa entre nós? Análises todos fazemos, terapias, direcionamentos... Digo, independente do que tivemos e o que não temos hoje, continuamos nossa jornada. E o Caminho está no preparativo para o encontro com Deus.

As coisas vão ficar melhores. Os mineiros sempre tem a última palavra. Frases e trocadilhos que conseguem dar dar um fim agradável ao que não parece tão bom assim. Ouço "dias melhores virão". Pergunto... Será? Quanto mais eu desejo me aproximar de Deus, de ter a comunhão, mais tentações aparecem. Eu quero ser feliz durante o caminho, não apenas no desfecho desse teatro. Ser plenamente feliz em vida é uma tremenda experiência com a eternidade. Pois com nossas falhas e frustrações vamos viver um inferno em vez do Céu que já é possível através dos atos concretos de bondade e superação.

Recebi uma Palavra ótima hoje. Atente-se no final. São Mateus 24,2-4

[2]Jesus, porém, respondeu-lhes: Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído.

[3]Indo ele assentar-se no monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com ele, perguntaram-lhe: Quando acontecerá isto? E qual será o sinal de tua volta e do fim do mundo?

[4]Respondeu-lhes Jesus: Cuidai que ninguém vos seduza.

Cuidado para que ninguém te seduza. Cuidado para que não desvie-se da sua essência, do sonho que Deus incutiu em sua luz, no seu verdeiro "eu". Não venho aqui interferir na forma que pensa a vida, suas escolhas... nada. Te proponho uma reflexão profunda: cuidado para que não se perca. Para que não se deixe afligir, pois vamos perder o ânimo muitas vezes. E o que devemos fazer? Recomeçar sempre!

Deste longo texto queria até dizer sobre o que ando fazendo. Mas resumo: estou me cuidando, tá?

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Alfredo